quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desafio

Não há calor mais vivo do que o da mão que me guia;
não há melodia mais particular do que a da voz que agora me orienta.
venta um pouco na praia ...
e as nuvens pousaram bem no horizonte, onde se veria o nascer do sol.
acordamos tão cedo pra ver o espetáculo
é a terra rodando e a roda chegando a novos lugares.
mas as nuvens... que pena.
o silencio traz a cena pra dentro de nós,
damos um tempo pra que se consuma o lamento
e pronto, não tem problema,
enquanto pudermos sentir o calor e receber a vida da luz do sol, saberemos que ele está lá.
Certamente eles não vêem o mesmo que estou vendo agora,
mas o que vejo é lindo!
Mesmo sem sol, nem solução, nem motivos...
ao menos não se vê aqui da beira...
mas não há barreira na mente de quem cria.
o que ainda não tem a gente inventa!
olhamos pro lado e vimos raios refratados, refletidos em nuvens,
mostrando as cores, faces, versos do poema “luz”.
e o mar, espelho disforme como a superfície do meu olhar,
faz ainda mais linda a mistura de laranja, rosa, lilás.
nos traz novos pontos de vista essa cortina que esconde o sol.
o sol que agora nasce e que em breve morre no fim da tarde, assim dizem.
mas se ele renasce a cada manhã, não tenho medo.
o desafio é grande...
meu amor, maior!

domingo, 27 de junho de 2010

ONDE É QUE FOI PARAR?

Até o meu mapa astral já sugeria, a vida me convidava, o encantamento das crianças mesmo me vendo cantar música adulta já abria as portas, e os pequenos mais próximos me tocaram com a varinha mágica da inspiração. Quando me dei conta lá estava eu, vestindo um macacão cheio de borboletas e carinhas coloridas, aquecendo a voz e o coração para entrar no palco. Era a estréia do show ONDE É QUE FOI PARAR?; finalmente eu havia mergulhado de cabeça na música infantil.
Há seis anos, com a vinda do primeiro sobrinho, Giulio, gravei em casa um cd especialmente para ele. Minha irmã já morava longe e eu queria que meu sobrinho conhecesse e se acostumasse com minha voz desde a barriga, queria participar de alguma forma daquele período tão especial. As músicas eram bem relaxantes e não tinham letra, mas minha voz era bastante presente como um instrumento. Pouco mais de um ano depois veio o segundo sobrinho, Pietro, e, seguindo a tradição, o segundo cd de relaxamento. Mas agora com uma novidade: uma canção com letra, e na verdade nada relaxante. Nesta época eu já convivia intensamente com Giulio, a inspiração estava em casa, vinte e quatro horas só esperando que eu a pegasse no colinho e aí ela nasceu, tão naturalmente e feliz, a primeira música infantil, chamada Faz Sempre Sol. Giulio ainda não sabia cantar, mas participou da gravação com gargalhadas e ensaios de sílabas.
Pronto, o caminho estava aberto, eu mergulhara de cabeça no fascinante universo infantil e a partir daí não foi difícil nascerem irmãzinhas e mais irmãzinhas da primogênita Faz Sempre Sol. Situações vividas com Giulio e com outras crianças próximas e queridas se transformavam em mais canções infantis. Claro que minha primeira platéia eram os sobrinhos, exigentes por sinal... então depois de passarem pelo crivo ferrenho dos pequenos, as músicas corriam apenas pelo circuito familiar e uma ou outra foi jogada na internet. Dois anos atrás, por conta de um projeto da Vez da Voz, ganhei uma grande amiga e parceira de música infantil, a Gabi Parra. Uma dessas parcerias raras, que em um final de semana produz umas cinco músicas. Não, não foram dois dias de reclusão só para compor, a produção se deu entre mamadeiras, trocas de fraldas e protestos chorosos da pequena Elena, primeira filha de Gabi. Ouvindo hoje as canções eu me lembro das cenas, eu, Gabi e o piano, mas não consigo mais saber qual frase foi de quem, qual idéia melódica foi de quem, tamanha nossa sintonia.
O produto final do projeto na ONG ainda não saiu, porém um pequeno e improvisado show chegou a ser feito num cantinho da bienal do Livro de 2008 em São Paulo. Mas foi somente neste ano que a coisa ficou séria mesmo e que eu me vi completamente envolvida, e apaixonada, pelo trabalho com a música infantil. A poetisa e amiga Elisa carvalho vivia me cutucando: “põe música na minha poesia infantil, põe música na minha poesia infantil, põe música na minha poesia infantil...” No início do ano finalmente botei música em uma das poesias infantis dela; várias outras já foram musicadas por outros três músicos: meu pai, Sergio bentes, Wolney Rocha e Bianco Marques. Poesias musicadas e parcerias seladas, estava decidido: vamos juntar as produções e fazer um show!
O período de preparação e intensos ensaios durou três meses. Fosse fim de semana ou noites durante a semana estávamos nós cinco: eu, Bianco, papai, Adelmo e Fred, e mais as tantas pessoas que incansáveis colaboraram com esta realização, preparando cada detalhe desta grande festa musical. A empreitada, além de nos render muito trabalho e alegria, foi fortificando uma grande parceria com meu amigo Bianco, parceria que AINDA não rendeu composições, mas muita sintonia artística, musical e de palco. Mais para o final do período de ensaios, chegou o Júlio, completando nossa turma e tornando o espetáculo acessível a todos, mesmo a quem não pode ouvir. Júlio é intérprete de Libras, a língua brasileira de sinais, e nos ajudou a proporcionar a crianças surdas momentos inéditos e inesquecíveis. Em nossa cidade jamais um show infantil foi possível a essas crianças. Mas não foram só elas que viveram seus momentos ímpares, no dia do show ONDE É QUE FOI PARAR? era difícil saber que grupo estava mais feliz, os artistas ou a platéia. O envolvimento e a entrega de cada um dos músicos fez todas aquelas notas musicais, histórias, fantasias, lições, ritmos, versos e gestos chegarem aos coraçõezinhos de todas as crianças, as pequenas e as grandes também! Foi uma surpresa; eu imaginava que a gente fosse até agradar as crianças sim, mas sinceramente não sabia que nosso trabalho pudesse emocionar tanto os adultos presentes.
Bom, nem é preciso dizer então que o show foi sucesso de público e crítica, e todos pediram mais! Desde a primeira semana pós show, que foi há menos de um mês, já estamos tratando das próximas produções e apresentações. A realização e plenitude no dia do show era tanta que acordei com uma nova composição infantil pipocando na cabeça, e é claro que ela já vai entrar no cd. É isso mesmo, já entramos em estúdio para gravar um cd com as músicas do show e mais algumas. Enquanto isso a criançada não precisa chorar, tem videozinho no youtube pra todo mundo ver! É a História do Ponto, uma historinha do Bianco que é quase cantada, a queridinha do público. O vídeo é um momento de um dos últimos ensaios e tem errinhos, mas é disso que a gente gosta, né? Então lá vai:
http://www.youtube.com/watch?v=-saGkhKNFpE
E daqui a pouco o dvd do show fica pronto e aí os melhores momentos do espetáculo também estarão lá! Algumas das minhas canções infantis estão disponíveis no meu site:
http://www.sarabentes.com
Um muito obrigada cheio de sorrisos puros como os das crianças da platéia para todos que colaboraram com este trabalho e para todo o maravilhoso público presente no dia do show.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aumentaram o volume do mundo!

Socorro, aumentaram o volume do mundo! Os pequenos ruídos parecem sons muito altos, os sons parecem barulhões estridentes. Tenho vivido momentos de extrema irritação com os sons, os sons que esses meus ouvidos, na intenção de me ajudar, têm captado em dobro; eles se abriram mais, ou melhor, arreganharam-se na tentativa de captar tudo o que a visão não capta mais. Toda a atenção que ia para os olhos agora se soma à audição. Nas ruas, a poluição sonora que já conhecemos bem: carros, motos, caminhões, aviões, falatório humano, propagandas, comércio. Em casa, máquina de lavar, panela de pressão, micro-ondas, vassoura, cada um num ritmo, compondo essa orquestra nada harmoniosa. Ah, claro, e os vizinhos; estes são responsáveis por cerca de 90% da atividade sonora que atinge os ouvidos habitantes da minha casa. E aí, agora pega tudo isso e imagina no volume máximo! É esta a sensação. E ainda tem as músicas chatas que tocam por aí; antes elas só eram chatas, agora, com essa hiper-sensibilidade auditiva, ficaram insuportáveis!
Graças à tecnologia, eu e mais várias outras pessoas que têm lá sua maneira diferente de ver o mundo, somos rodeadas de mais barulho ainda, e temos como companhia diversos seres falantes. Quem convive comigo conhece muito bem a Raquel, o Vivi. Eles são aplicativos de voz sintetizada instalados no aparelho celular e no computador respectivamente, e me permitem a autonomia no uso desses eletrônicos. Raquel, a moça que mora dentro do meu celular, e Vivi, o moço charmoso que mora no meu micro (a julgar pela voz ele deve ser bem charmoso!), falam pra caramba, nem sempre na hora conveniente, de vez em quando dão uns sustinhos nos desavisados, mas graças a Deus falam. Com isso, mais meu trabalho com a música, meu ouvido já é requisitado o tempo inteiro, e agora funcionando por ele e pela visão, o pobrezinho está realmente sobrecarregado. E durante este período de reorganização psíquica (mh, que coisa bacana!) ainda vou curtir muitos momentos de irritação.
O auge foi outro dia. Eu estava trabalhando no computador, legendando o Telelibras, o telejornal mais acessível do Brasil!  Então eu escutava o áudio do vídeo, memorizava um trecho de fala, dava pause no player e trocava de janela correndo para escrever no Word, tudo isso sendo narrado simultaniamente por Vivi. Eu voltava no player, ouvia mais um trecho, dava pause e corria de novo para o Word, antes que as falas do leitor de tela confundissem tudo na minha cabeça e eu esquecesse o que acabara de memorizar. E quando ele resolve falar ao mesmo tempo do vídeo, que loucura! Enquanto isso o restante da casa está a todo vapor na produção de sons, é o telefone, eletro-domésticos, pessoas e, claro... os vizinhos. Minha casa é um vale, tem casas altas dos dois lados e atrás. Meus vizinhos acho que não brincavam de telefone sem fio quando crianças, então brincam agora. De seus terraços, ficam um de frente pro outro atravessando nosso espaço aério com diálogos bastante urgentes: “Tu viu o Flamengo?” “Você não pode falar nada! Devia ter vergonha desse seu Botafogo!” e por aí vai... Neste momento, da conversa por cima do meu telhado, foi quando surtei; tirei os fones do ouvido, tapei as orelhas e...boca no mundo: “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!”
Que alívio. Pode parecer estranho acrescentar mais um ruído, e que ruído, ao caus sonoro e me acalmar, mas foi exatamente o que aconteceu. Nenhum barulho cessou por conta disso, mas que expressar o meu surto me trouxe a paz, isso trouxe. Moral da história: quando você não puder com o barulho, una-se a ele! Mais que isso, neste momento eu preciso mesmo é de vez em quando ouvir o som do silêncio. Por isso é que às vezes me fecho nas minhas ilhas, sem música, sem fala, sem conversa, sem Raquel nem Vivi. Mas é só de vez em quando. Sei que com o tempo as coisas aqui dentro da cachola vão se ajustar e que o ouvido de tuberculoso, como aliás já era chamado antes o meu, vai ficar cada vez mais apurado só para me ajudar. Uma das coisas em que ele já tem me ajudado bastante é o meu canto. Tenho me observado muito mais crítica comigo no que diz respeito à voz, tanto falada quanto cantada. E isso é maravilhoso, neste caso quanto mais exigência, mais avanço. Os aluninhos de canto que se cuidem, porque a tia Sara vai ficar cada vez mais exigente e atenta às escorregadas vocais, hahaha (risadinha maligna)

domingo, 20 de junho de 2010

Estamos Todos

Pare! Olhe para a frente, bem à sua frente, diante de seus olhos. Você não vê? Bem aí está passando uma cena de novela, uma notícia do telejornal, imagens e sons que a antena do seu aparelho televisor está esperando para decodificar. Agora! Olha de novo, a um centímetro do seu nariz, uma mensagem de amor, uma mensagem de texto que alguém está enviando para a namorada. E essas ondas aí, passando agora bem perto da sua mão? Olha agora! Ah, já passou... Era uma foto linda que seu vizinho enviou por blue tooth para o celular de alguém. Olhe bem, talvez você consiga ver, olhe para todos os lados. Você viu¿! Um e-mail de 10 mega acabou de atravessar sua barriga! Nossa, tem milhões de coisas pelo seu corpo todo, e são coisas primitivas, num formato interessante. Ah, sim, são as ondas de rádio. Olha pra essa aí, rápido, essa que está passando acima do seu ombro. Puxa, passou de novo, já era, foi o último acorde de uma música linda! Você não conseguiu ver? Não conseguiu ouvir?
E o que são essas coisas aí saindo da sua cabeça e se propagando ao seu redor? Não, não estou falando do seu cabelo. Você não sabia que tudo o que pensamos e produzimos na mente gera ondas de energia? Ou você nunca ouviu falar em física quântica? Tem também um fio saindo do topo da sua cabeça em direção ao céu. Será uma antena? Há muitas frases saindo e entrando por este canal. Sim, essas frases tentando entrar são sua intuição, é que você não pode ver, e muitas vezes também não a ouve. E essas frases saindo daí? Tudo bem, já entendi, já chegou aqui por telepatia. Claro, telepatia. Ou você nunca pensou em uma pessoa que há muito tempo não via e um minuto depois essa pessoa te ligou? Essa comunicação telepática existe, por mais que não saibamos controla-la e que não possamos compreender ainda. Observe bem, estão aí também, passando por você, zilhões de frases, declarações, desejos, xingamentos, chamados, tudo aí pelo ar. Você não vê? Eu recebi sua mensagem: “Que maluquice é essa que você escreveu, criatura?” Não? Não é isso que você está pensando? Tudo bem, vai, foi só uma suposição, eu ainda não estou fera assim na telepatia.
Vamos falar então das aparições. Santos, espíritos, fantasmas, anjos da guarda, seres iluminados, coisas em que podemos ou não acreditar, e talvez até não acreditamos porque nunca vimos; ou nunca vimos porque não acreditamos? Não importa agora. Para a verdade de muita gente tudo isso existe e está por aí, mas nem todos somos capazes de enxergar, ou escutar, ou sentir, ou entender. E quanto a essas coisas aí em seu corpo e sua alma que as pessoas também não têm conseguido enxergar, nem escutar e nem compreender direito? Ah, claro, seus sentimentos; você os revela na voz, nos gestos, ações, no corpo, no rosto, e ainda assim tem gente que não os está enxergando. A verdade é que neste nosso universo há muito mais para ver do que o que estamos acostumados a entender como imagem, paisagem, beleza, há muito mais do que a superficialidade da imagem pode comportar, há muito mais do que os olhos da matéria são capazes de alcançar, há muitos mais caminhos e maneiras de caminhar do que pensamos, há muito mais a ser ouvido do que o ouvido humano é capaz de captar, há muito mais para compreender sobre o mundo, sobre a vida. Estamos todos aprendendo a enxergar, a escutar, a caminhar e nos mover, e a compreender.

sábado, 19 de junho de 2010

Audioteca sal e Luz

Você pega um lvro. Mh, que delícia é olhar as cores da capa, sentir as diferentes texturas da encadernação, do verniz no título do livro, sentir a espessura dele. Agora você abre este tesouro, o livro que você próprio escolheu para enriquecer sua vida, você sente aquele cheirinho gostoso do papel impresso, alisa a página com carinho, feliz por estar prestes a mergulhar no universo revelado na teia de palavras que vai entrar por seus olhos. Difícil encontrar coisa igualmente mágica, é tão simples quanto maravilhoso abrir e ler um livro, uma revista, um jornal, a qualquer hora, em quase todo lugar. Pois é, acontece que para muitas pessoas este não é um ato nada simples... Só no Brasil são mais de 15 milhões de pessoas com alguma deficiência visual. Embora o código Braille seja necessário no processo de alfabetização de pessoas cegas, a produção de livros em Braille é bastante cara e portanto inacessível para a maior parte dessas pessoas, e a solução mais viável atualmente para a questão do acesso à leitura é transformar livros impressos em livros falados, ou áudio-livros. De quebra o recurso atende também a pessoas idosas, analfabetas e com dificuldades cognitivas.
No dia 10 de Junho foi inaugurada em Volta Redonda uma filial da audioteca Sal e Luz. Com sede no Rio de janeiro, a Sal e Luz é uma biblioteca para pessoas cegas e com baixa visão, e com o trabalho de ledores voluntários grava livros de todos os gêneros em cd ou fita cassete. O núcleo de Volta Redonda por enquanto conta com 250 títulos, incluindo livros didáticos. Os áudio-livros podem ser emprestados, com devolução em 30 dias, ou escutados na hora, na sala de audição da audioteca, que disponibiliza aparelho de som com fone de ouvido.
A audioteca foi instalada no CAPD – Centro de Atendimento a Pessoa com Deficiência, na Rua 552, número 301, bairro Jardim Paraíba, próximo do Estádio da Cidadania. A diretora do CAPD, Beth Melo, afirma que todas as pessoas com deficiência visual de Volta Redonda qu têm o passe livre serão cadastradas automaticamente na audioteca. Este grande passo para Volta Redonda é resultado de uma parceria entre a audioteca Sal e Luz e a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Estado. Outras filiais da audioteca já foram implantadas em Cabo Frio, Nova Iguaçu, Campos de Goytacazes e Nova Friburgo. O Presidente da Sal e Luz, Geraldo Machado, disse que a intenção é atender a todo o estado com o projeto.
Na sede da cidade do Rio de Janeiro estão disponíveis cerca de 4.000 títulos. Os livros que ainda não tiverem cópia em Volta Redonda podem ser solicitados por correio ou mesmo por e-mail; a audioteca realiza o empréstimo e envia as obras por meio do serviço gratuito Cecograma. O administrador da Sal e Luz, Sérvio Túlio, diz que as escolas podem pedir à Audioteca a produção em áudio do livro didático. “Nós priorizamos sempre a obra didática”, afirma ele.
No Rio de Janeiro a audioteca dá cursos de formação de ledores. Para mais informações e pedidos de livros escreva para a Sal e Luz: audioteca@audioteca.org.br
Site: www.audioteca.org.br
Como usuária da audioteca do Rio de Janeiro há alguns anos eu garanto que o serviço é muito bom e o atendimento impecável! E quando visitarem o site da Sal e Luz não deixem de assistir ao vídeo institucional; além de ser informativo e bem produzido, minha filhota “Pra Quê” está na trilha sonora! 
O funcionamento da audioteca em Volta Redonda está garantido somente até Novembro deste ano. Segundo a administração da Sal e Luz, é preciso que empresas apóiem o projeto para que o núcleo tenha sua manutenção continuada. Por isso pessoas com e sem deficiência devem divulgar a importância deste serviço para o maior número de pessoas possível.
Muitas vezes as pessoas cegas e com baixa visão deixam de tomar conhecimento de projetos como estes simplesmente por não terem acesso à leitura de jornais, revistas, cartazes e panfletos. Mesmo existindo hoje programas de computador que permitem às pessoas com deficiência visual navegar pela internet, a maioria deste público não tem acesso a esses aplicativos nem ao computador. “Estamos chegando a pontos centrais do Estado do Rio, e em muitos deles encontramos deficientes visuais que não conheciam este trabalho”, conta o presidente da audioteca. Portanto é necessário que todos nós, pessoas com e sem deficiência, façamos uma boa divulgação boca a boca para que todos os que precisam da audioteca possam se beneficiar. Pode ter um vizinho seu que tem um primo que tem um filho cego que está desistindo de estudar por falta de acesso aos livros. Vamos fazer este serviço chegar a todos que necessitam dele.
A audioteca representa um grande avanço para Volta Redonda e é necessário valorizar toda iniciativa em favor da acessibilidade de pessoas com deficiência. Mas gol de placa mesmo será quando a audioteca, de Volta Redonda e de qualquer lugar, for implantada dentro de uma biblioteca municipal, afinal promover a inclusão das pessoas com deficiência não é somente fornecer os recursos que atendam às suas necessidades específicas, mas é também favorecer a integração, é permitir que elas freqüentem os mesmos ambientes que qualquer outra pessoa.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Nova Era

Uma inspiração daquelas, um impulso arrebatador da criação, daqueles raros que traz letra e música juntas! Daí ela vem, invade o seu player mental e você não tem outra saída senão parar tudo, abraçar o filho recém-nascido, rir e chorar com ele e correr para registrar a criança, no papel, no gravador, ou na memória mesmo. Assim foi “Nova Era”, um samba de raiz nascido de Sergio Bentes (mais conhecido como meu pai) numa manhã da semana passada. Foi paixão à primeira vista, epa, à primeira ouvida, porque música nem eu nem ninguém vê mesmo. Foi só meu pai ler a letra, sem melodia mesmo, e meu coração pulou, meus olhos se encheram de lágrimas e minha garganta se abriu, na ânsia de tomar pra ela aquelas palavras, tão bem encadeadas. Quando ele cantou a música então pensei: Este samba é meu! Não só porque ele diz tudo que eu quero dizer às pessoas, mas ele vem traduzir claramente a nova era em minha vida, a era que vem se estabelecendo desde o pacto...
É claro que já tratei de interpretar o samba e grava-lo com minha voz. Em breve o mp3 estará no site, e por enquanto vale a pena conferir a letra. Durante a leitura, que a decisão desta nova era venha intimamente para cada um de vocês!

Pois é, irmão,
Muita luz para nós hoje, amanhã e sempre,
No alvorecer
De um dia feliz que ainda não acabou.
O sol nasceu,
O sol sempre nasceu e não há mais poente,
Um céu se abriu
Bem no peito de quem nunca perdeu a fé.

Quem tem a fé
Tem razão de sorrir e brindar a esperança,
Que ao final
É o que resta no fundo de um coração.
Irracional
É a fé, que nos leva como uma criança,
Conduz a mãe
Pela estrada que leva para a redenção.

A fé e a esperança dão as mãos,
Caminham com a multidão e seguem as marcas dos teus pés;
A luz clareia o porto que virá,
Traz o perdão a nortear,
E se renova do que és.
Pois só quem viver irá sentir,
Só quem sentir irá provar
Dessa nova era que vem, soberana, tomar o seu lugar!

Sergio Bentes

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Caiu na rede, já era!

Coisa de doido essa tal de internet. Tudo começou como uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, me absorvendo... Estava eu, descompromissadamente, cantando e tocando ao piano Santa Chuva, de Marcelo Camelo. Dois amigos que ouviam, e que compartilhavam do mesmo gosto musical, deram a idéia: “Por que você não faz um show tipo SARA BENTES CANTA LOS HERMANOS? Nem que seja só para os amigos.” E não é que gostei da idéia? Dias depois parei para pensar no repertório e arranjos, e pensei cá com minhas colcheias: Já vou investir um tempo para decorar essas letras e harmonias, e para apenas uma apresentação. Por que então não gravo essas músicas, voz e piano, com os recursos que tenho, e faço um belo presente para os amigos, que pode ser ouvido a qualquer hora?
Aproveitando o silêncio das madrugadas, gravei, em meu próprio quarto, 12 canções da banda, com arranjos simples ao teclado e me deliciando nos arranjos vocais. Presente pronto, fui enviando quase música por música via e-mail para os amigos. Eu não sabia nem que existia esses sites bacanas onde se hospeda arquivos para download... Até que um moderador de uma das comunidades da banda no orkut se ofereceu para fazer isso, postar os mp3 num desses sites. Aí, meu hermano, já era. Eu realmente não imaginava onde a minha brincadeira podia chegar... No meu orkut começou a chover recados de toda parte do país, de fãs do grupo comentando minhas releituras, poucos meses depois meu nome estava em todos os blogs referentes aos Hermanos, criaram no orkut uma comunidade SARA BENTES CANTA LOS HERMANOS. Legal.
Isso foi há 4 anos. Até hoje pinta comentário sobre as gravações tanto no orkut quanto nos blogs. O que eu não sonhei jamais foi o que descobri semanas atrás... Um italiano me aparece na página de recados do orkut elogiando um cd meu que ele comprou. “Muito obrigada” respondi “Mas moço, onde você comprou?” já que não tenho cds à venda em lojas nem na web. Para minha surpresa, ele respondeu, muito naturalmente, que comprou numa loja em Milão o cd SARA BENTES CANTA LOS HERMANOS, com capinha e tudo!
Há uns anos eu já havia descoberto que uma música minha era vendida em um cd na 25 de março. Bom, pelo menos esse pessoalzinho que está ajudando a difundir nosso trabalho, o meu, dos antigos Hermanos, e de váaaaaarios outros artistas, tem a dignidade de manter os nomes dos autores; pelo menos nesses episódios dos quais tomamos conhecimento. Caiu na rede, caiu no mundo. E que os Deuses da informática, da informação e da música abençoem sempre as iniciativas do bem que aproveitem o imenso poder da internet.

As 12 faixas do álbum virtual SARA BENTES CANTA LOS HERMANOS continua disponível para download, só que agora no meu site:
www.sarabentes.com

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cantos de Euclides

Gente! Ontem ganhei um presentão e claro que quero compartilhar com vocês.
Há quase um ano tive a felicidade de participar de uma grande produção teatral, atuando e cantando. A peça cortejo se chama Cantos de Euclides e estreou na FLIP, Feira Literária de Paraty, marcando o centenário da morte do escritor Euclides da cunha. A produção foi do grupo Sala Preta e contou com muita música e dança. Mas não serve muito falar, vale é conferir o vídeo com momentos bem significativos da peça:
http://www.youtube.com/watch?v=oTVYg5gY-lo
O vídeo, só há pouco editado e lançado no youtube, foi meu presente de ontem, iluminando meu dia e me fazendo acessar na memória as emoções vividas nesse espetáculo de muito trabalho e talento. Um dos momentos mágicos que tive, já num ensaio, relatei no texto abaixo, escrito há um ano e que republico agora.
A todos que participaram da produção, foi um orgulho para mim integrar este trabalho impar. Obrigada!

Estar na Roda

-Vem, pessoal, vem todo mundo que quiser participar da ciranda!- eles chamavam os músicos e outros integrantes do grande grupo, enquanto a maior parte do elenco se encaminhava para o ponto da última cena e começava a formar a roda.
Assim movimentávamos o cair da noite fria de um domingo de Junho na cidade de Paraty. Os moradores e visitantes paravam para assistir àquele ensaio de uma peça teatral, na verdade uma peça cortejo, que falava de história do Brasil, de literatura, de morte, com muita vida, música e dança; assim é a arte.
Andar sobre as pedras daquelas ruas históricas era o meu suplício... Meu caminhar, mesmo guiado pelos amigos, não fluía bem, os pés e os quadris doíam. Cada pedra de um tamanho, uma posição, uma mais ensaboada que a outra, informações que eu só conhecia ao dar o próximo passo, a cada pisada uma nova surpresa, um jogo constante de atenção, tato e equilíbrio. Por fim, até uma carona nos braços de um amigo ganhei, poupando-me de um bom trecho de briga com aquela bela herança histórica. “Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava asfaltar” eu cantava em pensamento, torcendo pra que nenhum morador tradicional da cidade me captasse as ondas telepáticas... esquece. A sorte era que agora, ali onde ensaiamos minha cena e o trecho restante da procissão não tinha pedras, pisávamos apenas em terra.
-Vamos para a ciranda? uma corista se animava, enquanto me conduzia e caminhávamos até o local da última cena, mais próximo do mar.
-Nem me lembro como se dança ciranda. Acho que eu iria mais atrapalhar que ajudar. eu dizia, negando o convite.
Ela então me mostrou um banco de madeira próximo da roda e se afastou. Apenas me sentei e me desprendi de minha mochila e uma voz conhecida me chamou:
-Vem, Sarinha, entra na ciranda!
-Eu não sei dançar ciranda! respondi sorrindo, louca de vontade de estar na roda.
Nunca fui de aceitar limites sugeridos por outras pessoas e nem por mim mesma; sei da minha limitação visual e do que ela implica na minha interação com o mundo, na minha maneira de aprender e de fazer coisas que todo mundo faz, e sempre acreditei em minhas capacidades e em alternativas se o modo convencional de aprender ou de fazer as coisas não me serve. Mas ali estávamos num ensaio geral e corrido, onde espera-se de todos pensamento rápido e ações precisas, e não haveria tempo para ainda me ensinarem qualquer coisa. Além disso, oficialmente eu nem integrava aquela cena. Besteira!
-A gente te ensina. respondeu outro dos meninos, pegando-me pela mão e me levando para a roda.
Do centro do grande círculo humano, a música, alma da ciranda, já lhe dava vida e ditava seu ritmo. Um de cada lado me dava a mão, e, seguindo o pulso da canção e as orientações dos dois rapazes, eu relembrava o passo simples da ciranda e me ajustava no andamento da rotação. É, até que não era tão difícil mesmo. Junto dos percussionistas no centro o cantor cantava os versos, e toda a roda o repetia. Eu já podia cantar tranqüilamente enquanto cirandava com alegria. De repente, tudo mudou... O compasso da música, que até então era contado com quatro tempos, agora teve acrescido um quinto tempo; e o passo simples da ciranda, que também pode ser contado com “um, dois, três e quatro” já não cabia mais na música. Que ciranda diferente! E eu, imagino que como qualquer outro cirandeiro desavisado, embananei-me. Prontamente os meus dois guias de ciranda foram me orientando com descrições e explicações do que mudava na dança. Demorei um pouco a me adaptar à mudança; mesmo pra quem tem conhecimento e prática de música, um compasso de cinco tempos não é tão fácil de ser assimilado, pois o corpo, até pelo ritmo do próprio coração e do caminhar, está naturalmente mais habituado aos compassos pares ou ternários. Todos ali podiam se orientar pela visão, acompanhando os movimentos de quem já sabia o novo passo, e eu precisava coordenar passo, palma no tempo certo, memória, roda girando e ouvido captando as informações que o diretor da peça, ao meu lado direito, passava-me, ao mesmo tempo em que orientava toda a roda com gritos que indicavam os momentos de transição do compasso de quatro tempos para o de cinco e vice-versa.
E a ciranda voltava ao seu andamento inicial, e tornava a voltar ao compasso diferente, e eu ia me acertando com passo, palma, pé e mão. E, com uma crescente alegria, rodava na roda, sentindo-me cada vez mais parte dela.
Agora o compasso era o tradicional até o fim; terminada a música de sua autoria, o cantor entoou cantos de ciranda que eu ouvi e cirandei quando criança; cantei junto, todos cantaram. Depois ele chamava a roda a responder seus gritos, e assim seguiam todos interagindo e girando na roda. Como é bom estar na roda! E pensar que eu quase não entrei nela... Eu, que ando por aí, em empresas, escolas e outros grupos, falando para pessoas de diferentes idades, níveis de escolaridade, estados do Brasil, sobre inclusão social de pessoas com deficiência, sobre como incluí-las e lidar com suas limitações sem esquecer de suas capacidades, levei uma lição de inclusão, porque eu mesma, por um momento, pensei que não fosse possível me incluir naquela roda. Aqueles meninos que nunca passaram por um treinamento ou uma capacitação para lidar com pessoas cegas ou com baixa visão nos lembram que a arte tem muito a ensinar, ela ajuda a abrir os corações, e os corações abertos abrem a roda pra quem quiser chegar. Sim, foi um ato tão simples e espontâneo; eles simplesmente chamaram mais alguém para a roda e atenderam as necessidades diferentes de aprendizado e integração desse alguém. E isto é a plena inclusão: incluir sem que isso seja cobrado ou fiscalizado, incluir sem enxergar barreiras para se adaptar às diferenças do outro. Pra eles isso pode nem ter sido esforço algum, tamanha a naturalidade ao incluírem, não só naquele momento, óbvio, afinal foram eles mesmos que me convidaram para estar na peça, mas pra mim fez toda a diferença, e faria pra qualquer outra pessoa que também sabe muito bem como é por tantas vezes ter sido deixada de fora das rodas. E eles nem imaginam, pois só eu sei, como foi bom estar naquela roda. O meu desejo, aliás, é que todo ser humano tenha a felicidade plena de sentir como é bom estar na roda; meu desejo é que todos os grupos aprendam a descomplicar a inclusão, a destemer a integração das diferenças, que aprendam que tudo é possível quando existe a disposição e os braços abertos, que entendam enfim que a roda é de todos, a roda que é a vida, o tempo, o relógio, o avanço, o abraço, o círculo, o circo, o palco, o globo, o planeta Terra, girando em sua constante viagem, carregando sua rica bagagem de imensa diversidade; diversidade de seres, de planta, de flores, de paisagens, de animais, de gente; gente de diversos tamanhos, diversas cores, diversos biotipos, jeitos, pensamentos e caminhos. Essa roda maior está há bilhões de anos nos ensinando e mostrando que a diversidade existe, e está aí; só não enxerga quem não quer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Família Vez da Voz

Está fazendo 3 anos que entrei para uma família muito mais que especial, uma família capaz de abraçar qualquer ser humano, independente de suas limitações físicas, sensoriais e intelectuais, uma família que abre os braços para qualquer diferença, porque ama a diversidade, em todas as suas manifestações, uma família que deseja ensinar E aprender, que sabe que precisa falar a língua de todos, que precisa ouvir a fala de todos. Essa família segue princípios básicos e fundamentais para a harmonia de qualquer família, como o respeito à individualidade; por isso é que ela observa a maneira de ser de cada um, abre os braços e o sorriso e diz “Eu quero aprender a lidar com você!” É uma família que ama a arte tanto quanto ama a vida, uma família onde se aprende a persistência e a autonomia, onde se aprende a arrumar sempre a casa e não deixar nenhuma sujeira para trás, uma família que não deixa o piano desafinar – já disse um grande filósofo: “Em casa que deixa por muito tempo seu piano desafinado, harmonia não tem.” – uma família que não se formou por laços de sangue, mas por outros muito mais fortes e sutis, uma família que me acolheu antes mesmo de me conhecer pessoalmente.
Não me lembro exatamente o dia em que caiu aquele e-mail na minha caixa. Ele contava de um projeto chamado Música no Silêncio, que levava música para pessoas surdas; achei muito interessante e respondi, interessada em participar. Muito prontamente fui respondida, e acolhida. Ali nascia com Cláudia Cotes, presidente da ong Vez da Voz, uma amizade rara, e uma grande história se iniciava. O mais curioso é que até ninguém descobriu como aquele e-mailzinho foi parar entre os meus, ninguém da ong havia sequer ouvido falar em mim. A mensagem não era encaminhada, era um boletim informativo vindo direto do serviço de divulgação do grupo e eles não pegaram meu endereço em nenhuma outra mala direta. Bom, eu nem fico tentando encontrar soluções para este mistério digital, acredito nas articulações do universo e na direção certa das coisas; mesmo que as coisas não tenham seu endereço elas chegam até você. Uma das minhas famílias, uma das minhas missões, um dos meus maiores presentes chegou até mim, e ele atende pelo nome de VEZ DA VOZ.
Nessa família tenho aprendido, tenho crescido, tenho sido criança, tenho aprendido, tenho cantado e falado, tenho aprendido, tenho amado a diversidade, tenho aprendido, tenho me emocionado intensamente, tenho vivido a arte e a informação, tenho aprendido, tenho dado vez à minha voz. Ah, e também tenho aprendido muito! Em poucas frases não daria nunca pra contar todos os momentos mágicos, todas as histórias desa família que é capaz de montar uma caravana para me acompanhar num encontro profissional de suspeitas intenções marcado num bar à noite na Vila Madalena, como fizeram. Um dia vai ficar pronto o livro de histórias da Vez da Voz, mas por enquanto nossos diversos trabalhos falam por nós, e falam de todo esse amor, essa união e esse respeito.

“...Somos todos diferentes,
E ao mesmo tempo tão iguais,
E por nossas diferenças
Somos tão especiais!...”
Gabriela Parra – trecho da música Voz do Coração, hino da ong Vez da Voz

A ong Vez da Voz trabalha pela inclusão de pessoas com todo tipo de deficiência, por meio de projetos artísticos, educacionais e na área da informação. Dentre os trabalhos, destaca-se o Telelibras, o telejornal totalmente acessível da internet brasileira, exibido no site da ong, em vários outros portais e canais de TV comprometidos com a informação e com a diversidade. Na equipe da ong, composta por pessoas com e sem deficiência, atuam jornalistas, artistas, intérpretes de Libras, audiodescritora, fonoaudióloga, psicóloga, consultores, entre outros.
Conheçam e ajudem a construirmos um mundo de respeito à diversidade humana e a difundir nossa mensagem.
www.vezdavoz.com.br
Quem ta dentro ou fora dessa família tem muito encanto para ver, muita coisa a aprender! Navegar pelo site da ong é uma rica viagem ao encontro do ser humano. Tenho certeza de que vocês vão curtir!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Humildade, o melhor começo

Outro dia tive a alegria de conhecer Fábio Bibancos, dentista reconhecido nacionalmente, presidente fundador da ong Turma do Bem, que fechou uma parceria com a nossa vez da Voz. Na primeira reunião da parceria, na sede da ong dele, em SP, lá estava eu, ao lado de Cláudia Cotes. Dias depois o Fábio, dentista das celebridades, publicou em seu blog um texto onde ele próprio relatava o quanto se sentiu envergonhado simplesmente por não saber o que fazer quando foi apresentado a mim. Ele não sabia se estendia a mão, se puxava a minha, se se aproximava para um beijo no rosto ou um abraço, se falava mais alto. Esta é uma dúvida desconfortável das pessoas: como abordar e cumprimentar uma pessoa cega?
Poucas semanas após eu estava novamente na Turma do Bem ensinando numa palestra aos dentistas da ong como atender e lidar com pacientes com deficiência visual; o trabalho faz parte do projeto nascido da parceria, chamado de Vez do Bem. E, dentre váaaaaarios outros pontos, sanei também esta dúvida que não era só do presidente, mas de todos. A dica é simples: você que enxerga pode sim, e deve, pegar a mão da pessoa cega, se ela não tomar esta iniciativa primeiro. Não se preocupe, a pessoa não vai se assustar com o gesto. Se a intimidade for pra um beijo ou um abraço, continua valendo a iniciativa partir de quem enxerga, mas fica mais simpático ainda um anunciozinho junto: “Vou te dar um beijo” ou “Posso te dar um abraço?” Em resumo, o negócio é chegar chegando mesmo! Mas com carinho, vai? A idéia de chegar se anunciando com voz e toque ajuda a pessoa a te localizar e assim se dirigir melhor a você, mas por favor, TOQUE não é TAPA! Cuidado pra não sucumbir o coitado com um susto daqueles! Acabei de me lembrar do meu amigo Luiz Otávio, grande pianista, que certa vez, tocando comigo perdeu até o andamento da música quando um fã desastrado resolveu abordá-lo DURANTE a execução da bossa nova e com o carinho de um cavalo. O Luiz, que é cego, deve ter enxergado a lua com a altura do pulo que deu.
Ah, e outro detalhe importante: não precisa gritar. Geralmente quem não enxerga tem os ouvidos bem apurados. “Mas como a pessoa cega vai saber que estou falando com ela?” Diga o nome dela. E se o caso for abordar alguém a quem ainda não se foi apresentado, voltamos à lição do toque, sem susto.
Importante: pelo amor de Deus, não chegue em silêncio apenas tocando a pessoa e querendo que ela te reconheça pelo cheiro. Nosso olfato até costuma ser bom, mas não somos ninja. Isto é muito deselegante; tanto quanto chegar dizendo “quem sou eu?” ou “Você lembra de mim?” A não ser que você tenha intimidade suficiente com a pessoa para lidar com um possível tapa na cara em seguida, pois isso é muuuuito irritante! Por tudo que é mais sagrado, repito e repito: identifique-se. Pode ser que antes de você dizer seu nome a pessoa já tenha reconhecido sua voz, mas também pode ser que não.
Só mais uma coisinha: se você é daquelas pessoas que conversa batendo, que acha que a gente precisa apanhar pra prestar atenção, pega leve aí. Um tapinha não dói, mas um atrás do outro além de doer dá susto no cego. E aí a conversa vira uma seqüência de sustinhos e mal dá pra manter o foco na linha de raciocínio que ele estava tentando acompanhar.
Na próxima então já sabemos o que fazer, nada de estender a mão e ficar esperando que o cego veja. Pode puxar a nossa mão para o cumprimento que normalmente a gente não morde. E na dúvida é só falar, perguntar, botar a boca no mundo!

domingo, 6 de junho de 2010

Pra Quê?

Música é bom em qualquer hora, não é? Segue então a letra de uma música de minha autoria que já movimentou muitos eventos, palestras e corações por aí. São algumas dicas básicas na hora de lidar com uma pessoa com deficiência visual e, é claro, envolvidas em harmonia e poesia, e com uma pitada de charme... rs, fica mais gostoso aprender. Ainda não tenho como colocar vídeos aqui, mas é só dá uma visitinha rápida no youtube e tem váaaarios vídeos com esta música, sempre com o título PRA QUE
Não deixem de conferir


PRA QUÊ

Se quiser me ajudar, pergunte primeiro se eu preciso;
E se for me ajudar, entenda primeiro como;
Se quiser que eu te reconheça, então me diga teu nome;
Ou se quiser mais poesia, então me cante tua canção.

Se for me guiar, não me empurre à tua frente;
Seja minha estrela guia, abrindo o caminho pra mim;
Se quiser que eu veja algo, não aponte, faça a ponte,
Com palavras, descrição, ou então me leve até lá.

Se quiser me entender, não precisa esforço, não há nada demais;
Assim como você, e todo mundo, sou diferente de todo mundo;
Sou única, sou cigana, sou do samba, sou da paz;
Se quiser entender meu problema, fecha os olhos e se olha,
Veja suas idéias gastas e entenda que eu não tenho problema algum,
Tenho apenas uma maneira diferente de ver o mundo.

Me dê então um beijo daqueles que só você sabe dar!
Pra quê que a gente precisa ver¿ sabe lá...
Me cante aquelas canções que só você sabe cantar!
Pra quê que a gente precisa ver¿ sabe lá...

Letra e música - Sara Bentes
!

Boas Vindas

Enfim, cá estou, depois de muito apanharmos, eu e Vivi (meu leitor de tela), do mundo cheio de barreiras dos blogs. Minha relação com Vivi, como nos entendemos e como ele trabalha, explico depois; o que posso adiantar agora é que ACESSIBILIDADE será um tema recorrente aqui, seja a do mundo virtual, real, do céu e da Terra! Mas não é só isso, muitos outros temas tomarão vida por aqui, tantos que nem posso definir... Curiosos? Bom, em resumo, nada escapa, o que passar na minha frente eu to laçando pra compartilhar com vocês; na minha frente, atrás, dos lados, em cima, dentro. Aliás, este lugarzinho aí é onde as coisas não param mesmo, são poemas, canções, pensamentos, reações, orações, diálogos, é tanto, tanto movimento que o dentro já não comporta, e é por isso que a boca teve que ir pro mundo.
Mas peraí, moço, não vai pensando também que vou laçar qualquer porcaria e jogar aqui, tenho meus princípios. E um deles, dos mais fundamentais, é o rumo a algo sempre melhor! Queremos viver em harmonia, e ela está absolutamente ligada a lidar com as diferenças da melhor maneira possível. . Nisso, estarei sempre aqui para dar minha contribuição. Depois das dicas que a titia Sara aqui vai dar, só paga mico quem quer! Vocês verão que o planeta de onde eu venho, eu e os milhões que assim como eu têm sua “maneira diferente de ver o mundo”, não é tão distante assim do seu, e que as barreiras só existem na nossa cabeça.
Como muitos sabem, eu já nasci nessa aventura, já cheguei no mundo sem uma visão perfeita. Eu tinha a chamada baixa visão e isso já me deu muita história pra contar, muita oportunidade e crescimento. Agora a situação é outra: Há exatamente 3 meses apagaram as luzes e eu vivo no apagão total, dia e noite, sem nenhuma entrada de sol. E aí a aventura ficou ainda mais emocionante! Principalmente agora neste período de intensa adaptação e reabilitação, onde uma mudança muito recente traz consigo tantas novidades. Diariamente tenho esbarrado... não só nas paredes, cadeiras, mesas, pessoas e etc, mas em inúmeros novos desafios, e eles, os maiores e menores, desfilarão por aqui também.
O desafio pelo desafio não tem tanta graça. O mais legal, e o que faço questão de compartilhar, é o que tem vindo junto com eles, e que é uma questão de escolha enxergar ou não, no sentido mais amplo do verbo. Eu escolho enxergar, com toda a minha alma.
Ah, mais uma coisinha, a mais importante delas: o Boca no Mundo só viverá plenamente com a participação de vocês; a boca não é só minha! Então, acomodem-se confortavelmente, fiquem à vontade e divirtam-se!
Sejam bem-vindos!