quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aumentaram o volume do mundo!

Socorro, aumentaram o volume do mundo! Os pequenos ruídos parecem sons muito altos, os sons parecem barulhões estridentes. Tenho vivido momentos de extrema irritação com os sons, os sons que esses meus ouvidos, na intenção de me ajudar, têm captado em dobro; eles se abriram mais, ou melhor, arreganharam-se na tentativa de captar tudo o que a visão não capta mais. Toda a atenção que ia para os olhos agora se soma à audição. Nas ruas, a poluição sonora que já conhecemos bem: carros, motos, caminhões, aviões, falatório humano, propagandas, comércio. Em casa, máquina de lavar, panela de pressão, micro-ondas, vassoura, cada um num ritmo, compondo essa orquestra nada harmoniosa. Ah, claro, e os vizinhos; estes são responsáveis por cerca de 90% da atividade sonora que atinge os ouvidos habitantes da minha casa. E aí, agora pega tudo isso e imagina no volume máximo! É esta a sensação. E ainda tem as músicas chatas que tocam por aí; antes elas só eram chatas, agora, com essa hiper-sensibilidade auditiva, ficaram insuportáveis!
Graças à tecnologia, eu e mais várias outras pessoas que têm lá sua maneira diferente de ver o mundo, somos rodeadas de mais barulho ainda, e temos como companhia diversos seres falantes. Quem convive comigo conhece muito bem a Raquel, o Vivi. Eles são aplicativos de voz sintetizada instalados no aparelho celular e no computador respectivamente, e me permitem a autonomia no uso desses eletrônicos. Raquel, a moça que mora dentro do meu celular, e Vivi, o moço charmoso que mora no meu micro (a julgar pela voz ele deve ser bem charmoso!), falam pra caramba, nem sempre na hora conveniente, de vez em quando dão uns sustinhos nos desavisados, mas graças a Deus falam. Com isso, mais meu trabalho com a música, meu ouvido já é requisitado o tempo inteiro, e agora funcionando por ele e pela visão, o pobrezinho está realmente sobrecarregado. E durante este período de reorganização psíquica (mh, que coisa bacana!) ainda vou curtir muitos momentos de irritação.
O auge foi outro dia. Eu estava trabalhando no computador, legendando o Telelibras, o telejornal mais acessível do Brasil!  Então eu escutava o áudio do vídeo, memorizava um trecho de fala, dava pause no player e trocava de janela correndo para escrever no Word, tudo isso sendo narrado simultaniamente por Vivi. Eu voltava no player, ouvia mais um trecho, dava pause e corria de novo para o Word, antes que as falas do leitor de tela confundissem tudo na minha cabeça e eu esquecesse o que acabara de memorizar. E quando ele resolve falar ao mesmo tempo do vídeo, que loucura! Enquanto isso o restante da casa está a todo vapor na produção de sons, é o telefone, eletro-domésticos, pessoas e, claro... os vizinhos. Minha casa é um vale, tem casas altas dos dois lados e atrás. Meus vizinhos acho que não brincavam de telefone sem fio quando crianças, então brincam agora. De seus terraços, ficam um de frente pro outro atravessando nosso espaço aério com diálogos bastante urgentes: “Tu viu o Flamengo?” “Você não pode falar nada! Devia ter vergonha desse seu Botafogo!” e por aí vai... Neste momento, da conversa por cima do meu telhado, foi quando surtei; tirei os fones do ouvido, tapei as orelhas e...boca no mundo: “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!”
Que alívio. Pode parecer estranho acrescentar mais um ruído, e que ruído, ao caus sonoro e me acalmar, mas foi exatamente o que aconteceu. Nenhum barulho cessou por conta disso, mas que expressar o meu surto me trouxe a paz, isso trouxe. Moral da história: quando você não puder com o barulho, una-se a ele! Mais que isso, neste momento eu preciso mesmo é de vez em quando ouvir o som do silêncio. Por isso é que às vezes me fecho nas minhas ilhas, sem música, sem fala, sem conversa, sem Raquel nem Vivi. Mas é só de vez em quando. Sei que com o tempo as coisas aqui dentro da cachola vão se ajustar e que o ouvido de tuberculoso, como aliás já era chamado antes o meu, vai ficar cada vez mais apurado só para me ajudar. Uma das coisas em que ele já tem me ajudado bastante é o meu canto. Tenho me observado muito mais crítica comigo no que diz respeito à voz, tanto falada quanto cantada. E isso é maravilhoso, neste caso quanto mais exigência, mais avanço. Os aluninhos de canto que se cuidem, porque a tia Sara vai ficar cada vez mais exigente e atenta às escorregadas vocais, hahaha (risadinha maligna)

Um comentário:

  1. Olá Sara,

    Aqui é a Liliana, de Jussara, Goiás.
    Tenho pensado muito em vc e desejado de coração que o mais rapidamente possível, se adapte nessa nova fase pela qual está passando. Tenho tido problemas de "sonoridades dissonantes" aqui em casa, com um visinho. E sempre me desorienta sons muito altos, parece que meu cérebro não trabalha muito bem.
    Estamos de férias por 30 dias aqui em Goiás. Mas, conforme havia programado, o Coral de Libras conseguiu ensaiar e apresentar a música tema do Vez da Voz, por diversas vezes. Fizemos 04 filmagens e postamos no Youtube.
    Quanto ao nosso encontro não acontecido, ainda não perdemos a esperança. Quem sabe,sai no segundo semestre.
    Um grande abraço, de cada aluno participante do Coral e um especial meu.
    Liliana

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