terça-feira, 8 de junho de 2010

Humildade, o melhor começo

Outro dia tive a alegria de conhecer Fábio Bibancos, dentista reconhecido nacionalmente, presidente fundador da ong Turma do Bem, que fechou uma parceria com a nossa vez da Voz. Na primeira reunião da parceria, na sede da ong dele, em SP, lá estava eu, ao lado de Cláudia Cotes. Dias depois o Fábio, dentista das celebridades, publicou em seu blog um texto onde ele próprio relatava o quanto se sentiu envergonhado simplesmente por não saber o que fazer quando foi apresentado a mim. Ele não sabia se estendia a mão, se puxava a minha, se se aproximava para um beijo no rosto ou um abraço, se falava mais alto. Esta é uma dúvida desconfortável das pessoas: como abordar e cumprimentar uma pessoa cega?
Poucas semanas após eu estava novamente na Turma do Bem ensinando numa palestra aos dentistas da ong como atender e lidar com pacientes com deficiência visual; o trabalho faz parte do projeto nascido da parceria, chamado de Vez do Bem. E, dentre váaaaaarios outros pontos, sanei também esta dúvida que não era só do presidente, mas de todos. A dica é simples: você que enxerga pode sim, e deve, pegar a mão da pessoa cega, se ela não tomar esta iniciativa primeiro. Não se preocupe, a pessoa não vai se assustar com o gesto. Se a intimidade for pra um beijo ou um abraço, continua valendo a iniciativa partir de quem enxerga, mas fica mais simpático ainda um anunciozinho junto: “Vou te dar um beijo” ou “Posso te dar um abraço?” Em resumo, o negócio é chegar chegando mesmo! Mas com carinho, vai? A idéia de chegar se anunciando com voz e toque ajuda a pessoa a te localizar e assim se dirigir melhor a você, mas por favor, TOQUE não é TAPA! Cuidado pra não sucumbir o coitado com um susto daqueles! Acabei de me lembrar do meu amigo Luiz Otávio, grande pianista, que certa vez, tocando comigo perdeu até o andamento da música quando um fã desastrado resolveu abordá-lo DURANTE a execução da bossa nova e com o carinho de um cavalo. O Luiz, que é cego, deve ter enxergado a lua com a altura do pulo que deu.
Ah, e outro detalhe importante: não precisa gritar. Geralmente quem não enxerga tem os ouvidos bem apurados. “Mas como a pessoa cega vai saber que estou falando com ela?” Diga o nome dela. E se o caso for abordar alguém a quem ainda não se foi apresentado, voltamos à lição do toque, sem susto.
Importante: pelo amor de Deus, não chegue em silêncio apenas tocando a pessoa e querendo que ela te reconheça pelo cheiro. Nosso olfato até costuma ser bom, mas não somos ninja. Isto é muito deselegante; tanto quanto chegar dizendo “quem sou eu?” ou “Você lembra de mim?” A não ser que você tenha intimidade suficiente com a pessoa para lidar com um possível tapa na cara em seguida, pois isso é muuuuito irritante! Por tudo que é mais sagrado, repito e repito: identifique-se. Pode ser que antes de você dizer seu nome a pessoa já tenha reconhecido sua voz, mas também pode ser que não.
Só mais uma coisinha: se você é daquelas pessoas que conversa batendo, que acha que a gente precisa apanhar pra prestar atenção, pega leve aí. Um tapinha não dói, mas um atrás do outro além de doer dá susto no cego. E aí a conversa vira uma seqüência de sustinhos e mal dá pra manter o foco na linha de raciocínio que ele estava tentando acompanhar.
Na próxima então já sabemos o que fazer, nada de estender a mão e ficar esperando que o cego veja. Pode puxar a nossa mão para o cumprimento que normalmente a gente não morde. E na dúvida é só falar, perguntar, botar a boca no mundo!

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