sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entre crises de rins e de riso

Pessoaaaal! Quinze diazinhos atarantados esses, que nem tive tempo de botar a boca no mundo. Mas cá estou de volta, cheia de saudades e alegria! Dentre outras coisas, estive às voltas com uma situação inesperada, que me trouxe muita dor e me fez ver algo novo dentro de mim, algo que vem se solidificando e tomando forma há algum tempo, algo localizado mais exatamente nos rins. Pois é, eu criava duas pedras preciosas dentro de mim e nem sabia! Gente, e as crianças são grandes... Agora estou aqui, sonhando com um parto tranquilo e pensando nos nomes para as gêmeas. Quando elas nascerem, estou pensando em leiloar; segundo meus cálculos (renais) pode dar uma boa grana! J
As preciosas deram sinal quando eu visitava pela primeira vez uma nova amiga, e dei foi trabalho pra ela e pro pessoal de Pirituba, em São Paulo. Bora para o pronto socorro; e aí foi remedinho na veia pra cá, injeçãozinha pra lá, e a dor e o mal estar foram passando e consegui até andar! É, minha gente, só quem já teve uma crise dessas sabe o drama que ´é... Saímos do PS já dando risada e fazendo piada com os detalhes trash do episódio vivido. No dia seguinte, já em casa, crise de novo e mais um passeiozinho no hospital. Aí sim pude fazer alguns exames, pois até então eu nem havia sido apresentada às duas filhotas, o motivo da dor. O enfermeiro me empurrava na cadeira de rodas rumo à sala da ultrassom e precisou dar uma ré. Automaticamente, apitei: “Pi-pi-pi...” Claro, normas de segurança no trânsito!
-Ora, já está brincando? Então já está boa! disse ele, quase desdenhando da minha dor, obviamente sem poder medi-la.
Na verdade não é bem assim, moço. pensei. Será que ele ainda não sabe que a brincadeira e o riso aliviam a dor e curam? Acho que não, nem ele e nem a maioria das pessoas. Na verdade todos sabem, afinal a ciência já deu conta de explicar toda a química do fenômeno, mas talvez as pessoas apenas não se permitam brincar e rir nos momentos em que mais se precisa. Desde os meus doze anos, gravo e reúno gargalhadas de familiares e amigos. É isso mesmo: eu coleciono risadas, as mais sonoras e espontâneas possíveis. Felizmente, a coleção cresce até hoje, e meu sonho de colecionadora é capturar a risada do Bira, do sexteto do Jô. Algumas gargalhadas infantis da coleção, das mais antigas, hoje ainda vivem com o mesmo vigor, agora em bocas adultas. Outras ficaram apenas no magnetismo da minha fitinha cassete, e nas lembranças de infância de seus donos. Por que só as crianças podem perder o fôlego de tanto rir?
Eu ainda não aprendi a rir alto, como as gargalhadas escandalosas que amo ouvir, mas se tem uma coisa que sempre soube fazer muito bem é rir, e com direito a crises de riso memoráveis. E dentro dessa disciplina, a lição que tenho sido convidada a estudar com capricho é “Rir de si mesmo”. Após vinte e tantos anos de estudo prático, destaco uma frase que resume toda a lição: Quando não tem graça a gente põe! E aí, o gostinho do café, o cheiro bom de um sabonete, a textura do cabelo de alguém que a gente gosta, um raiozinho de sol, uma música cantada com paixão, coisas que já têm graça mas que a correria nos faz esquecer, crescem diante de nossos sentidos e nos divertem como grandes feitos.
Há uns dois meses, topei com Oswaldo Montenegro andando por Ipanema. Fiz questão de abordá-lo e contar a ele que estou na montagem de um dos seus musicais, o FILHOS DO BRASIL, sob a direção de seu irmão, Deto Montenegro. Esses sincronismos do universo... Eu jamais havia esbarrado no moço na vida, e justamente agora eu acabava de entrar na Oficina dos Menestreis e, mais do que isso, estava curtindo tanto o trabalho! Conversamos muito rapidamente e ele concluiu o diálogo dizendo:
-Espero que vocês estejam se divertindo bastante na montagem!
-Não tenha dúvidas disso. respondi feliz.
Esta é a filosofia da Oficina dos Menestreis, e é comum ouvirmos dos diretores e assistentes um “Divirtam-se” logo antes de iniciarmos uma cena ou mesmo um exercício. Quem me vê almoçando no ônibus de viagem pra São Paulo pra ganhar tempo e chegar pontualmente nos ensaios, andando pelas pedras da rua da Alfândega e do SAARA procurando figurino, carregando mochila, mala a caminho do teatro, decorando textos dentro do metrô e me perdendo por vezes num palco que ainda não domino como a palma da minha mão, quem vê todas as dificuldades e desafios de todos os integrantes da Turma Mix Menestreis, formada por cadeirantes, pessoas com deficiência visual e com outros tipos de deficiência física, nos ensaios e em toda a preparação para a peça, pergunta: “Se divertir? Com essa trabalheira toda?” É isso aí: sem ou com trabalheira, o negócio é se divertir! Ninguém nos iludiu dizendo que a vida não seria trabalhosa, e nós topamos o desafio assim mesmo. Então, está feito o pacto, comigo mesma: no que quer que eu faça, vou encontrar ou colocar graça. Se um dia eu esbarrasse com Deus pelas ruas de Ipanema, ou de Pirituba, ou do SAARA ou do fim do mundo, e ele me dissesse “Espero que vocês estejam se divertindo bastante na vida que eu lhes dei para viver”, eu poderia responder por mim, com o mesmo entusiasmo que respondi sobre a montagem: Meu amigo, não tenha dúvidas disso!

Sara em pleno salto no pula pula, com braços e cabelos pro ar, e o sol de fundo

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