quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

DESCRIÇÃO – CLIPE ‘’VIVA O QUE EU VIVO’’ (Sara Bentes)




Uma mulher (Joana) de costas, dentro do  box  do banheiro, atrás de uma cortina, passa as mãos nos cabelos molhados . Em seguida puxa a toalha pendurada. Ela se prepara pra começar mais um dia.
Em outra casa, outra mulher, (Sara) se maquia com expressão de contentamento.  
Em outra cena Joana abre a porta saindo de casa.
Na cena seguinte Sara fecha a porta saindo de casa com a bengala de cego e no elevador tateia os botões do painel lendo o braile.
Na rua, Joana anda numa calçada, com roupa esportiva, cruza com um senhor com deficiência física que utiliza um skate para se locomover sentado. Ele olha para ela. Para isso tem que inclinar um pouco a cabeça. Ela não o vê. Seus olhos estão atentos à digitação no celular.
Na cena seguinte, Joana malha na academia; filme sutilmente em câmera lenta, com alguns closes em suas pernas. A câmera mostra também aparelhos com o peso que ela utiliza para os exercícios das pernas.
Outra cena: Sara com a mão apoiada sobre a bengala, canta em close. Ela está à frente de uma parede com vários quadros réplicas de Romero Brito.
Agora Sara está encostada no parapeito de um viaduto sobre uma movimentada avenida do Rio de Janeiro. A imagem se abre e em zoom se distancia e vai se distanciando até mostrar que a cena está sendo feita de uma câmera aérea.
Corta para próxima cena: Sara canta na rua com óculos bem estiloso, um lilás sutilmente transparente e à sua direita e esquerda, pessoas andam para o fundo da cena.
Joana aparece de costas, correndo em câmera lenta no meio de várias pessoas no calçadão de Copacabana. Em seguida, para bruscamente e leva as mãos sobre seu boné na cabeça mostrando que se assusta e se protege de alguma coisa.
Na cena seguinte uma manchete de jornal diz: “Mulher é atingida por bala perdida na Orla”.
A cena seguinte mostra Joana com close no rosto, de perfil e uma expressão pensativa e triste olhando estática na direção de um lugar qualquer. A câmera abre a cena e mostra que ela está em uma cadeira de rodas. Sozinha no calçadão de Copacabana. Compõem a cena a avenida e os prédios atrás.
Próxima cena: Sara está no viaduto sobre a avenida movimentada do Rio, e canta ao celular para alguém, com expressão de indignação.
Em seguida aparece atravessando na faixa de pedestres; acompanhada por uma mulher que a ajuda. Sara fala e a mulher, de cabeça um tanto baixa, esboça um sorriso enquanto a escuta. 
A cena agora é de Joana em close de perfil olhando o mar. Em seguida, em preto e branco, um flash de sua corrida na praia com roupa esportiva. 
Mais uma cena em que Sara canta com os quadros réplicas de Romero Brito atrás.  Dessa vez mais curta a tomada, muda para Sara cantando em close, a câmera foca debaixo para cima, deixando o céu azul com poucas nuvens bem à vista; atrás de Sara uma linda catedral arredondada e à esquerda duas árvores. Uma delas, coberta de flores rosa.
Outra cena com close de perfil no rosto de Joana de óculos escuros. Pensativa, ela cerra os lábios por um tempo e os  abre e novamente em preto e branco, outro flash dela brincando de bater bola na praia numa roda de amigos. Mais um close em seu rosto. Uma lágrima desce sob os óculos escuros. Mais um flash, na academia, no aparelho que trabalha pernas, ela seca o suor da testa.
Novamente Sara cantando, agora sentada, com os quadros coloridos de Romero Brito atrás de si. Batendo a bengala no chão, ela a usa para marcar o ritmo. Numa mudança de intensidade da música, crescente, ela se levanta e segue sozinha com a bengala cantando o trecho do refrão: “Viva o que eu vivo...” 
 Na cena seguinte, com a areia e prédios da orla ao fundo, a cadeirante, ainda em perfil do rosto, retira os óculos, deixa descer mais uma lágrima e em seguida, com expressão mais refeita, seca as lágrimas com uma das mãos. 
Muda de cena e Joana está tocando a cadeira numa faixa de pedestres, um gari, que está trabalhando, vem ajudá-la e ela olha para trás e conversa com ele, agradecida. Em seguida, outra travessia; duas mulheres a ajudam e elas conversam entre si. Joana aponta para onde vai e logo outra tomada lateral de cena a mostra tocando sozinha a cadeira em uma calçada. Na mesma calçada Joana aparece pelas costas, tocando a cadeira, ‘’tocando a vida’’, e a imagem fica um pouco desfocada enquanto ela dobra uma esquina e desaparece da cena. 
Volta à Sara,  que canta em close, de frente. À sua direita e esquerda pessoas passam, agora  na direção da câmera.
Sara em close do rosto, finaliza a canção com a fala ( ‘’Você vai saber!”)e interpreta, mostrando a expressão de um sorriso de lábios fechados. Com um ar de certa traquinagem, fecha a cena com uma olhadela para o lado, que pode soar provocadora. 
Um quadro pequeno, em metade da tela, mostra cena de Sara pelas costas, caminhando sozinha, com a bengala numa calçada larga e a rua, com algumas pessoas caminhando, vendedores ambulantes e prédios ao fundo. Essa imagem finaliza o clipe enquanto os créditos e agradecimentos vão subindo na outra metade da tela.

Créditos:
VIVA O QUE EU VIVO
Música, letra e voz: Sara Bentes
Arranjo: Luiz Otávio
Gravado, mixado e masterizado no Virtuose Estúdio
Roteiro, direção e atuação: Leslie Assis
Câmera e edição: Michel Monteiro 
Descritora: Vania Lee

Agradecimentos:
Kika Monnteiro
Larissa Mello
Sr. José Nunes Bezerra Filho
Patrick Gonzaga do Nascimento
Alan Frank Neves
Valney Freitas
Luanara e Vanessa
Graice
Sr. Osni Diniz
Aline Bentes
Carol Bentes
Thiago Pimentel
Samir kuraiem
Amanda Canuto
Leandro Ferreira
Rômulo Vieira
Gil Rosza
Joyce Mendes

Apoio: 
Volta Cultural
Clube Foto
Emprol RH
Mundo Cegal
Talento Incluir
Body Move Academia

terça-feira, 30 de junho de 2015

O coral de todos os momentos

Nasci num coral grande. Não, um coro de anjos celestiais não cantou por minha chegada ao mundo. Falo de um coral terreno, que é minha família paterna, com uma avó sorridente (meu avô falecera 10 dias antes, provavelmente pra fiscalizar lá de cima todos os trâmites espirituais de meu nascimento, como bom fiscal que era), onze tios (com meu pai, somando 12 irmãos) e quase trinta primos, só de primeiro grau. Em outro ponto da cidade, ao saber de meu nascimento, um dos onze tios compunha ao violão (que provavelmente já estava em seus braços) uma música com meu nome.
                
Fosse onde fosse e por qual motivo fosse, cada reunião de família virava fatalmente uma festa. Natal, aniversários, ou simplesmente vontade de cantar. Sim, um dos melhores momentos era sempre a hora da cantoria. Acompanhadas por violão, baixo, teclado, palmas, pandeirola, copos, e qualquer outra coisa que gerasse som, vozes graves, vozes médias, vozes agudas, vozes fortes e vozes tímidas; muitas vozes, e sempre com direito a segundas e terceiras vozes. Harmonia nem sempre perfeita, nem todos sempre afinados, como em toda família, mas aquelas notas, aquelas músicas, aqueles ritmos, mesmo que eu não quisesse, entrariam por todos os meus sentidos durante todo o meu crescimento. Se eu estivesse catando goiaba vermelha no quintal da vó, ou montando teatrinho com uma dezena de primos, ou experimentando umas notas no piano da tia mais nova, ou aprontando com o primo adorado e tomando chamada da vó, eu recebia toda aquela música.
                
Com meus doze anos, pela primeira vez vi aquele grande coral se esmorecer. Era hora da vó Joaninha partir. E, após a dolorosa despedida física, fomos todos pra casa dela e, fora sua difícil ausência e a cantoria, tinha a costumeira comilança, as piadas de uma família de humor incorrigível e as crianças correndo por toda parte. Um priminho pequeno, ao voltar pra casa com a família, comentou alegre com a mãe: “A festa da vó estava tão legal!” Por outro lado, o tio mais novo gerava uma poesia dedicada à mãe. E tempos depois, meu pai transformava a saudade em uma nova canção. Assim o grande coral demonstrava mais uma vez a capacidade de transformar dor e alegria em arte.
                
Não demorou muito pra que o grande coral voltasse à ativa, mesmo quando ainda doía a falta da voz mais doce. E agora eu também já era uma voz cantante no coro. Muitos primos, em geral os mais velhos, já faziam parte cantante do coro também, assim como, ao longo do tempo, outros instrumentos foram adicionados à banda, como violino, violoncelo, bateria e até representantes exóticos da música internacional, como o kazoo, o hulusi e o ukulele.
                
Da mesma forma que crescia a diversidade musical, crescia também a diversidade de sorrisos, de cores, de personalidades, pois a minha geração de primos agora tinha seus filhos, e a família crescia, e continua crescendo... E, seguindo a mesma lei da vida, os tios começaram a diminuir; de onze, agora são nove, desde quando, em 2012, o primeiro foi embora, o tio Luiz, furando a fila por idade. Aliás, nada surpreendente em se tratando dele, que era um dos piores da família de humor incorrigível. Dentre as tantas que ele aprontou, contam que certa vez ele entrou no banco todo torto e simulando uma grande dificuldade na fala só pra ser atendido na frente. Bom, nem preciso dizer que no velório dele era uma alternância de lágrimas e gargalhadas abafadas, quando alguém vinha contar alguma outra que ele tinha aprontado e que nunca chegara aos nossos ouvidos. E o grande coral, talvez mais maduro, até conseguiu cantar desta vez. Mas eu não, não consegui conciliar lágrimas e canto.
                
Na última sexta-feira, foi embora mais um tio, o tio Manoel. Lá estava de novo o grande coro, com as vozes graves e agudas, segundas e terceiras vozes automáticas (elas simplesmente vêm). E eu, talvez um pouco mais madura, até consegui cantar também. Como sempre, lágrimas, risadas ao ouvir as tantas que também aprontou o tio da vez, e uma constatação difícil: É, o grande coral original está diminuindo... E que pena que a gente só percebe o “tarde demais” normalmente  quando já é tarde demais, pra dizer a todos eles o quanto eu os amo, o quanto me importa cada um e o quanto suas qualidades afetam minha personalidade. E o grande coral, não tem escapatória, já está perpetuado no sangue, na musicalidade e nas vozes dos filhos, netos, bisnetos (bem como o humor incorrigível e a disposição pra aprontar...).
                
Depois da despedida física, e de eu ter ouvido que devo ser a última da família a morrer, pra poder cantar no funeral de todos, mais cantoria, mais risadas e causos, a certeza de que devemos logo registrar num livro as histórias pra mais de metro dessa família tão peculiar, e os planos de cada um para o próprio funeral. Como em algum lugar do oriente, em geral todos ali declaram querer festa, cantoria e risadas nesse momento tão natural, e eu também.

PS: A outra metade de minha origem, a família da mamãe, aguarde sua vez... 

Sara Bentes

Na foto abaixo, a vovó Joana com uma renca de netos, mas ainda faltando muitos que nasceram depois. Difícil uma foto com todos os tios e primos, até porque não caberia numa foto só... ;)





quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Vai dar tudo certo! (se não der tudo errado...) 4

Promoção Uma Música Só Pra Você!

Você já sabe da novidade, não sabe? Dia 25 de fevereiro será o lançamento online do meu novo CD, o “Invisível”! Mas, enquanto isso, você pode ser o felizardo que vai ganhar e ouvir uma faixa inédita do CD antes de todo mundo! Pra concorrer a este presente exclusivo é facílimo: clicar aqui http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/ e comentar o texto lá, ou qualquer um  dos textos da série deste mês de janeiro, e torcer pra ser sorteado!
Podem participar: pessoas de qualquer idade, residentes em qualquer país.
Promoção válida até 31 de janeiro. Boa sorte, boa leitura e divirta-se!

Vai dar tudo certo! (se não der tudo errado...) 4


Pois é, chegamos ao fim da nossa série. E, depois de tantas histórias e risadas, podemos concluir que o dar certo ou dar errado no fim das contas é mesmo uma questão de tempo, como nos mostra, por exemplo, a história do Einstein, que, segundo seus professores primários, tinha tudo pra dar errado... O que nos prova também que, para fazer o errado dar certo, o X da questão é o famoso jogo de cintura, que, aliado à fé, pode ir ainda mais longe. Quantas vezes, ao saborear uma das receitas deliciosas da minha mãe, ouvi dela que, no meio do preparo, ela se dera conta de que o ingrediente principal havia acabado e improvisara com um outro, que, aparentemente, não tinha nada a ver, e, resultado: a receita ficara melhor ainda! Finalizando nossas reflexões, o mais importante mesmo nesse tema são as historias pra contar. Por tal motivo é que deixo mais duas pra vocês:

Terremoto no cenário 

Dizem que o melhor da festa é o preparo- dizem que o melhor da viagem é o caminho- e eu diria que o melhor do espetáculo pode estar nos minutinhos que o precedem, mas o público não vê. E que bom que não vê... Quem compareceu à estreia do nosso espetáculo circense Belonging em São Paulo não viu o que houve antes da primeira cena, mas percebeu que algo estranho aconteceu, pois as cortinas subiram até a metade e ali ficaram, meio que se balançando, enquanto uma movimentação estranha se iniciou no palco, atores, diretores e produção olhando pra cima, preocupados com alguma coisa. Só que a “alguma coisa” era eu, que iniciava o espetáculo cantando sentada num lustre de metal pendurado a 12m de altura. Antes de todo espetáculo, eu sempre ficava lá em cima, imóvel e silenciosa, pra nenhum som vasar naquele já nosso conhecido microfoninho headset (o mesmo que me acompanhava na cena do enrosco no texto 1 aqui da nossa série), aguardando as cortinas se abrirem e a cena começar. Naquele dia, tudo seguia igual, até o momento em que, segundos após o início do som das cortinas subindo, fui subitamente empurrada por algo que vinha justamente da direção das cortinas e fiquei balançando e rodando pra lá e pra cá, como um lustre que toma uma bolada; com a pequena diferença de altura entre o lustre de casa e o lustre do circo... Tudo e nada me passou pela cabeça ali, a 12m do chão, foi tudo muito rápido pra dar tempo de raciocinar alguma coisa. A única coisa que fiz, instintivamente, foi segurar com mais força na corda do lustre, além de quase me borrar de medo, claro. Eu não podia ver e não tinha ideia do que estava acontecendo e muito menos do que podia vir a acontecer com aquilo se balançando daquele jeito. Nessas horas é que se torna mais aventureiro ainda não enxergar... Passado um pouco o susto e amenizada a sacodida, conseguiram destravar as cortinas e as desceram novamente. Então, baixaram o lustre, eu desci dele pra me acalmar um pouco e me explicaram que o “terremoto localizado” se deu por conta de um desajuste na temperatura do ar condicionado, que ficara muito diferente na plateia e no palco, e quando as cortinas começaram a subir, foram subitamente empurradas pelo ar mais quente, o da plateia, em direção ao centro do palco. Com isso, o lustre, que estava logo atrás das cortinas, foi empurrado por elas com tanta força. Caramba, eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer... Muito menos que pudesse acontecer comigo pendurada a 12m do chão... Bom, mas circo é surpresa, mágica e emoção...

Depois que respirei um pouco, subi no lustre de volta, subiram o lustre, abriram as cortinas e o espetáculo começou, cheio de emoção, mas nenhuma mais fora do previsto... Ufa, por pouco o elenco daquele dia não atua sem uma atriz. O que seria menos pior do que só sobrar no palco uma atriz atuando sem o restante todo do elenco, como quase aconteceu há uns 3 anos na cia. Mix Menestreis...

O exterminador de elenco

Eu já havia feito tantas vezes aquela cena, que já podia fazê-la de olhos fechados...  Bom, mas sempre com a mesma pessoa, o meu amigo Guizaum, que é cadeirante e havíamos desenvolvido por meses nossa interação na cena. Um belo dia ele não pôde ir e teve de ser substituído. Meu parceiro de cena então era um rapaz sem deficiência e que não tinha experiência alguma no tema, muito menos experiência em interagir com pessoas com deficiência em cena... Ele já começou quente, no primeiro abraço que me deu em cena, veio com tanta empolgação que derrubou de minha mão minha coadjuvante Izadora (minha bengala). Gentilmente ele a pegou e seguimos em frente. A ideia era brincar e correr entre os monumentos, representados pelo restante do elenco espalhado em estátuas pelo palco. Normalmente, com meu parceiro cadeirante, eu apenas segurava atrás da cadeira e corria tranquila, seguindo a trajetória dele. Mas meu novo parceiro achou que era só me puxar, e com toda a velocidade... Ele corria e me puxava pela mão por entre o elenco e, de repente, “BUM”, uma colisão contra um “monumento”. Pelos cabelos que toquei e pelas risadas que ouvi, identifiquei que o “monumento” era minha amiga Aninha, que faz aquele estilo “sou pé frio, tudo acontece comigo, tinha que ser eu etc”. Eu ri, pedi desculpas e senti que ela bambeava feito joão bobo, pra frente e pra trás. Mas definitivamente o problema ali não era a pé frio da Aninha... Depois de me arremessar contra ela, o parceiro continuou a me conduzir pela cena, com um pouquinho mais de cuidado, só um pouquinho, até o momento em que me botou em suas costas, de cavalinho, e começou a girar freneticamente no centro do palco. Eu ria, me divertia, mas, com a velocidade, mal podia controlar a Izadora, que, movida pela força centrífuga, se erguia do chão e se transformava em uma mortífera hélice de helicóptero em minha mão. Os pobres dos “monumentos” se inclinavam pra trás e davam discretos passinhos pra mais longe da Izadora. Ou seja, meu parceiro tentou exterminar a mim e ao elenco inteiro, mas, graças aos deuses do teatro, o máximo que ele conseguiu foi fazer os monumentos tomarem vida e se moverem e transformar uma emocionante cena romântica numa comédia pastelão. E pra vocês verem a cena original que fazíamos, sem pastelão, ela tá aqui: http://www.youtube.com/watch?v=zY6w49AKvLs

Compartilhem com seus amigos, comentem e concorram a uma música exclusiva do meu CD “Invisível” que vem aí!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Vai dar tudo certo! (Se não der tudo errado...) 3

Promoção Uma Música Só Pra Você!

Você já sabe da novidade, não sabe? Dia 25 de fevereiro será o lançamento online do meu novo CD, o “Invisível”! Mas, enquanto isso, você pode ser o felizardo que vai ganhar e ouvir uma faixa inédita do CD antes de todo mundo! Pra concorrer a este presente exclusivo é facílimo: clicar aqui http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/ e comentar o texto lá, ou qualquer um  dos textos da série deste mês de janeiro, e torcer pra ser sorteado!
Podem participar: pessoas de qualquer idade, residentes em qualquer país.
Promoção válida até 31 de janeiro. Boa sorte, boa leitura e divirta-se!



Assim como a arte, a vida e as pessoas são inexatas e surpreendentes. E que bom que é assim! Por isso mesmo é que muitas vezes, com nossas expectativas e previsões erradas, somos positivamente surpreendidos. Foi assim, com uma surpresa dessas, que fui selecionada pra participar do projeto Percepções, exibido no programa Fantástico – Rede globo em 2005/2006. O instituto que promoveu o projeto pediu a uma consultora que indicasse uma lista de candidatos com o perfil aventureiro, independente e arrojado que a vaga pedia. A consultora, uma amiga antiga minha e da minha família, apresentou uma lista e, por último, talvez só pra preencher espaço, já que ela achava que eu não tinha nada a ver com o perfil, estava meu nome. Bom, depois de alguns meses, após entrevistas com vários candidatos, lá estava eu, selecionada pelo instituto e embarcando no projeto Percepções, um divisor de águas na minha vida, viagem intensa de 3 meses por 9 países da América do Sul.

Veja um videoclipe do Percepções aqui: https://www.youtube.com/watch?v=j49wexpHfWk
Porém não é sempre que essa mesma inexatidão humana nos traz positivas surpresas... Quando o assunto é uma gravação de um telejornal por exemplo, é bom que seja tudo o mais exato possível. Mas não foi bem assim comigo numa gravação externa do telelibras, telejornal online da ong Vez da Voz, há alguns anos...

Sara Bentes e o intérprete... Qual é mesmo o intérprete?

Pra quem não conhece, o Telelibras é um modelo totalmente acessível de telejornal, onde apresentador e intérprete de libras – língua brasileira de sinais, dividem o mesmo espaço e figuram no mesmo plano. Pra isso, o intérprete está sempre ao lado do apresentador e traduz simultaneamente. A mesma coisa ocorre nas matérias externas, e, em eventos longos e movimentados, o Telelibras contava com o trabalho de dois ou mais intérpretes de Libras, que se alternavam ao lado do repórter nas gravações. Ao fim de toda matéria, o repórter se apresentava e apresentava o intérprete ao lado. A repórter da vez era eu, e o intérprete... Hum, o intérprete... depois de umas dez entrevistas, cada uma traduzida por um intérprete diferente, quem era mesmo o intérprete que me acompanhava? O intérprete de Libras em geral se mantém silencioso enquanto sinaliza, então eu não podia me orientar por sua voz. Puxa, se ao menos ele estivesse do meu lado, eu poderia tentar identificá-lo pelo cheiro. Mas não, ele estava à direita do entrevistado, que estava à minha direita. Eu me concentrei em tudo, no foco para a câmera, na altura da pessoa para oferecer a ela o microfone sem golpeá-la, nas perguntas e respostas, tudo fluindo perfeitamente bem numa entrevista riquíssima, até que: “Sara Bentes e a intérprete Rafaela Sessenta para o Telelibras!” Ouvi um sonoro “Ahhhhh” de toda a equipe e a risada do Fabiano Campos, o intérprete da vez, e não acreditei no que acabara de fazer. A Rafaela Sessenta já tinha ido até embora. E aí, tome risadas, e fôlego pra gravar tudo de novo...
Bom, ao menos não era ao vivo; ufa! Porque em vexames em cena ao vivo já estou ficando diplomada. E este que estou para contar a vocês é, sem dúvida, o pior vexame em cena da minha história até aqui...

“Cantora Desenvolve Estranha Modalidade de Canto”

Uma matéria de jornal relatando o triste fato começaria bem assim. Mas, graças a deus, nenhum jornal sensacionalista reportou o ocorrido naquela noite de jantar solene na reunião de um dos Rotary Clubes de Volta Redonda. Os trajes eram ternos e longos, o ambiente era elegante e de luzes indiretas, o cardápio trazia algo ao molho madeira, os senhores, senhoras e suas famílias eram educados e gentis, tudo apontava para um impecável acontecimento rotariano. Ah, claro, um detalhe importante (que na verdade é o pivô da confusão), o jantar impecável tinha música ao vivo, voz e violão; e, lamentavelmente, eu era a cantora em questão, e o violonista era meu querido amigo Adriano Pinheiro. Bom, pra tanta elegância, preparamos um repertório fino, começando com uma bossa nova do Caetano Veloso. Nos posicionamos diante de todos, ajeitamos violão e microfone e todos fizeram o mais absoluto silêncio em suas mesas para nos prestigiar. O problema foi que um amigo antigo da família, membro do clube, fez questão de me apresentar lendo um breve release da minha trajetória artística. Ele pegou o microfone e, simpaticamente, começou a ler. Todos ouviam atentos, enquanto eu e Adriano exibíamos um elegante sorriso de comercial de creme dental, ansiosos pra começarmos logo a cantar; e tudo ia muito bem, até que o amigo se deparou com a frase: “Sara Bentes canta com a banda sinfônica da CSN” Na verdade ele nem chegou no “sinfônica”, porque já na “banda” ele, displicentemente, realizou uma pequena troca de vogais, substituindo o primeiro “A” por um sonoro “U”. Pois é, isso mesmo, ele declarou em alto e bom som essa frase aí que vocês conseguiram imaginar... É incrível como toda aquela elegância, toda aquela nobreza, toda aquela fineza, tudo se transformou tão repentinamente numa gargalhada coletiva de perder o fôlego... Eu, que já não gosto nadinha de rir, não vi outra saída senão me acabar de rir também, seguida pelo Adriano, que também adora um mal feito. O apresentador até tentava se recompor e se desculpar, mas nem era mais ouvido, e só foi conseguir terminar de ler meu release após alguns minutos, quando todos já se acalmavam um pouco, mas só um pouco, a crise de riso ainda estava à espreita no salão. Quando ele, ainda rindo também, terminou sua tarefa e nos deu a vez, eu me esforçava pra voltar a me concentrar, mas, sabendo que seria como uma missão impossível, eu disse ao Adriano, que também não parava de rir: “Pro espaço a bossa nova do Caetano e manda logo um forró aí”.

E foi assim que uma noite de gala se transformou no pior vexame da minha vida... Se de toda experiência podemos extrair um aprendizado, nessa aí aprendi que, se você for cantar ao vivo e o apresentador for ler seu release, nunca escreva nele que você canta com qualquer banda, nem que seja a banda oficial do presidente da ONU, mas invente outro nome, escreva “grupo instrumental”, ou o arcaico termo “conjunto”, ou omita o fato, sei lá, qualquer coisa, mas “banda” jamais!

No próximo episódio: um “terremoto” no cenário e eu pendurada a 12 metros do chão; e o dia em que quase liquidei todo o elenco do teatro; até a próxima semana!

Leia o episódio 1 aqui: http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/
Leia o episódio 2 aqui: http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado-2/

Comente e concorra a uma música inédita do “Invisível”, o novo CD da Sara. Compartilhe com seus amigos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vai dar tudo certo! (Se não der tudo errado...) 2

Promoção Uma Música Só Pra Você!

Você já sabe da novidade, não sabe? Dia 25 de fevereiro será o lançamento online do meu novo CD, o “Invisível”! Mas, enquanto isso, você pode ser o felizardo que vai ganhar e ouvir uma faixa inédita do CD antes de todo mundo! Pra concorrer a este presente exclusivo é facílimo: clicar aqui http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/ e comentar o texto lá, ou qualquer um  dos textos da série deste mês de janeiro, e torcer pra ser sorteado!
Podem participar: pessoas de qualquer idade, residentes em qualquer país.
Promoção válida até 31 de janeiro. Boa sorte, boa leitura e divirta-se!

Vai dar tudo certo! (Se não der tudo errado...) 2



Há males que vêm pra bem. Já dizia meu pai nos meus 10 anos de idade, quando fui forçada a trocar de escola porque a direção da escola onde eu estudava desde os 6 decidiu que ali não era mais meu lugar, que eu atrapalhava o restante da turma etc. Enfim, coisas que me deixaram muito triste na época e lamentei deixar pra trás meus amiguinhos. Mas foi na nova escola, 2 anos depois de meu ingresso lá, que tive meu primeiro contato com técnicas de canto e encontrei espaço e incentivo pra começar a cantar em público, e dali não parei mais. Bom, ali eu já entendi o ditado que meu pai tanto me repetiu. E, ao longo da minha trajetória, fui entendendo que na arte, inexata e subjetiva, o ditado também se aplica e que, frequentemente, um “erro” vem a se tornar a cereja do bolo, o toque que faltava, um gol de placa!

Tá errado mas tá mais bonito! 

Exemplo disso foi o que aconteceu na faixa número 1 do nosso CD infantil, o “Faz Sempre Sol”. Arranjo pronto, todos os instrumentos gravados. Só que, pra ganhar tempo, o violino e a flauta não gravaram todas as repetições do refrão; afinal a tecnologia está aí pra nos ajudar e, com o bom e velho ctrl C ctrl V, a gente ganha um tempão de estúdio. Quando o Júnior, nosso operador de estúdio, foi colar o trechinho de violino que cantava junto com a voz, sem querer ele colou num outro ponto, entre uma frase e outra de voz, e ficou como um contracanto de violino. “Opa, desculpa, tá no lugar errado” ele disse, já se apressando em descolar o violino dali. Eu e todos os músicos no estúdio, encantados com o efeito inesperado do violino no lugar “errado”, protestamos: “Não, não, não! Deixa aí. Tá errado mas tá mais bonito!” Ouvimos de novo e, rindo muito, todos concordamos que assim estava melhor. O Fred Portilho, nosso violinista, gravou mais uma pequena frase de violino só pra criar uma conexão entre o novo arranjo e o antigo e pronto! Agradecemos ao Júnior pelo “erro” e no segundo refrão da  música, “O Maior Brinquedo do Mundo”, figura pra sempre assim, o violino no lugar errado porém muito mais bonito.
A música tá no Youtube, num clipe que foi super divertido de fazer: http://www.youtube.com/watch?v=CeR4-IrI0Q8
E tá no Soundcloud, onde dá pra ouvir melhor os detalhes: http://soundcloud.com/sarabentesoficial/o-maior-brinquedo-do-mundo

Por outro lado, há quem defenda a ideia de que a música não passa de uma grande matemática, e muito exata. Apesar de não gostar deste conceito, concordo que muitas vezes um pequeno erro de cálculo na música e uma notinha inesperada podem desandar tudo e até derrubar um cantor da canção. Foi o que aconteceu comigo e meu amigo violonista Eneas Resende num show ao vivo em Juiz de Fora há alguns anos...

Quem Disse Que O Show Não Pode Parar?

A música era cabeluda sim, de harmonia traiçoeira e melodia complexa, mas uma música linda, com grande extensão vocal e que permitia a demonstração de interpretação e técnica mais rebuscada, tanto para o cantor quanto para o instrumentista. A música se chama “Sou Sua Sabiá”, de Caetano Veloso; a cantora, no caso, era eu; e o instrumentista... Ah, o instrumentista... era meu talentosíssimo amigo Eneas Resende, que esbanja criatividade e técnica no violão, muito mais técnica do que eu na voz. Estávamos mais que acostumados a tocar aquela canção, naquele dia porém talvez ele estivesse mais “criativo” que nos outros, e resolveu inventar uma firula justamente num acorde crucial pra uma modulação de tonalidade no meio da música. Bom, a partir daí já dá pra imaginar o que aconteceu, né? O trem descarrilou e fomos um pra porto alegre e o outro pra salvador. Apesar da firula, ele modulou pro tom certo, pois ali no violão sim a matemática é mais exata e ele sabia exatamente em que casa do braço do violão devia montar o acorde; já na voz e na percepção musical a coisa não é tão exata assim, e meu ouvido dependia da dica do acorde crucial dele pra modular o tom, acorde onde ele fez a firula e me confundi, fiquei sem chão, e modulei pra um tom que definitivamente não era nenhum dos 12 que conhecemos aqui no ocidente... E aí passamos os 3 acordes seguintes tentando encontrar um ao outro, eu tentando me acalmar pra perceber o tom do violão e ele tentando perseguir o tom da minha voz; um verdadeiro cataclisma musical. Até que ele, sabiamente, decidiu abreviar o sofrimento nosso e o do público: parou de tocar e me disse a clara voz, sem qualquer constrangimento, como quem chama a amiguinha pra brincar: “Sarinha, vamos começar de novo?” Meu deus, o que dizer ao público nessas horas? Como reconquistar o apoio da plateia depois de parar uma música no meio? Essas interrogações e mais algumas se embaralhavam na minha cabeça naqueles segundos que se pareceram uma eternidade. Enfim, inspirada pela cara de pau do Eneas e iluminada talvez por santa Cecília, falei, no mesmo tom descarado do meu amigo: “Desculpa, gente, mas é que o Caetano Veloso merece que a gente comece de novo e faça melhor.” A plateia nos aplaudiu generosa e recomeçamos do zero, agora sem grandes firulas ou pequenos sufocos.

Assim seguimos, sobrevivendo aos desastres musicais e aprendendo com as experiências e com nossos companheiros. Aprendi e aprendo muito com meu amigo Eneas e aprendi também que somente passando por desafios assim é que desenvolvemos a serenidade necessária pra estar em cena e encarar os próximos desafios, em geral, maiores que os que já encaramos até aqui...

Na próxima semana: quando o cansaço e as repetições te fazem vacilar na concentração e estragar uma cena inteira, quando o apresentador distraído te proporciona o pior vexame de sua vida... Até o próximo episódio!

Leia o episódio 1 aqui: http://sarabentes.blogspot.com.br/2015/01/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo.html

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Vai Dar Tudo Certo! (Se Não Der tudo Errado...)



Promoção Uma Música Só Pra Você!

Você já sabe da novidade, não sabe? Dia 25 de fevereiro será o lançamento online do meu novo CD, o “Invisível”! Mas, enquanto isso, você pode ser o felizardo que vai ganhar e ouvir uma faixa inédita do CD antes de todo mundo! Pra concorrer a este presente exclusivo é facílimo: clicar aqui http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/ e comentar o texto lá, ou qualquer um  dos textos da série deste mês de janeiro, e torcer pra ser sorteado!
Podem participar: pessoas de qualquer idade, residentes em qualquer país.
Promoção válida até 31 de janeiro. Boa sorte, boa leitura e divirta-se!

Vai Dar Tudo Certo!
(Se Não Der tudo Errado...)

Principalmente nos momentos difíceis, é tudo o que a gente quer ouvir: Vai Dar tudo certo! Mas pode esperar, que eventualmente aparece aquele metido a engraçadinho que vai completar: “Se não der tudo errado”, que costuma ser o mesmo tipo que diz: “É assim mesmo, depois piora”. A verdade é que na vida nem sempre tudo dá certo mesmo. Ah, claro, a não ser na vida dos artistas, sempre maquiados, sorridentes, sem gaguejar uma letra na cena da novela e sem desafinar um milímetro naquela nota ultra aguda, certo? Errado! Assim como as mocinhas também soltam gases e os heróis também ficam de nariz entupido, vida de artista nem sempre é poesia... E que bom que é assim, porque a arte, inexata e cheia de surpresas e caprichos, vem nos ensinar que o dar certo ou dar errado pode ser só uma questão de ponto de vista.

Neste mês de janeiro, compartilho com vocês alguns episódios “inesquecíveis” da minha trajetória até aqui, divididos em 4 capítulos, porque tem é história... Também, já comecei toda errada, fui inventar de nascer logo no dia 1 de Abril, dia da mentira. Pode-se dizer então que sou uma mentira que deu certo. Depois inventei de ser artista, e brilhar e fluir pelos palcos sem nenhum enrosco. O que podemos chamar de uma verdade que deu errado... Enrosco foi o que não faltou no último dia da temporada do espetáculo circense “Belonging”.

Gosto que me enrosco 

Lembram daquela do Zeca¿ “Gosto que me enrosco num rabo de saia...” Seria a trilha sonora perfeita se a cena fosse uma comédia. Mas não era... Bem que o Andrezinho Carioca, meu companheiro de cena, cantou a pedra já no primeiro ensaio com figurino: “Cadeira de rodas e saia longa não combinam.” Mas demos nossos jeitinhos e criamos uma coreografia em que o movimento das rodas dele iam sempre em sentido contrário ao da cauda de meu vestido de noiva. Tudo deu sempre certo nos ensaios, logo, nos espetáculos também haveria de dar. E assim foi por três temporadas, até o penúltimo dia da terceira... Talvez eu tivesse sido acometida pela síndrome do último dia e tivesse caído num “relaxamento” por ter dado tudo certo até ali, e acho que, ao subir na cadeira do André para o primeiro movimento da dança, não puxei cauda de vestido suficiente pra cima... Começamos a bailar, lindos e românticos. De repente sinto um puxão na saia. Sem me abalar, dei uma cutucada nas costas do André com a mão que já segurava ali, enquanto a outra desenhava lentamente um arco no ar. Ele entenderia meu sinal, já previamente combinado, e inverteria a direção da cadeira, pra desenroscar o pedacinho de vestido que havia enroscado. O André é paraplégico, e não sente nada de certa parte das costas pra baixo. Talvez eu o tenha cutucado na certa parte, ou seja, na parte errada, porque ele não respondeu ao meu sinal. Conforme o puxão na minha saia aumentava, eu aumentava a intensidade e a área da cutucada, ao mesmo tempo em que continuava bailando e sorrindo gloriosa ao som dos violinos. Agora André entendia meu sinal e movia a cadeira de diferentes formas, tentando livrar a rodinha da frente do emaranhado de tecido, filó e rendas que se apoderavam dela. Não adiantava, a coisa só complicava e ele não tinha mais pra onde se mover, qualquer movimento parecia enroscar ainda mais pano na roda. Também sorrindo, majestoso e romântico, André proferiu em sussurro um resumo da nossa dramática situação: “Amiga, fodeu.” Inventando agora uma parte nova da coreografia, distraí o público com um dos braços em suaves movimentos, enquanto o outro se dobrou pra trás, desligando o captador do microfone headset que eu levava preso em mim, assim eu e André poderíamos conversar disfarçadamente pra tentar solucionar o caso do enrosco. Já ouvíamos os burburinhos do público, incomodado por perceber que algo ali não estava no planejado. Ou estava? Afinal aquilo era circo, e em circo tudo pode acontecer. Sem microfone aberto, agora podíamos nos comunicar melhor, mas sempre sorrindo e dançando. Discutíamos algumas possíveis saídas, mas nada convinha segundo pudemos raciocinar com urgência, e por fim ele disse: “Amiga, não tenho o que fazer, não sei o que fazer.” Movida pelo desespero daquela frase, sem pensar muito, comecei a inventar uma outra nova parte da coreografia, lembrando-me do que aprendi na essência mais clássica do ballet tradicional, desci ao chão num suplex com um plié, misturado com um “desenrosqué”, meti as mãos na rodinha e comecei: puxa pra lá, empurra pra cá, roda pra cima, pra baixo, desroda, vira, enquanto ele empinava um tiquinho a cadeira pra que a rodinha da frente ficasse fora do chão, facilitando meu trabalho tátil. Pareceu uma eternidade, mas o que parecia impossível se desenrolou em alguns segundos. Ainda sorrindo, agora com toda a minha alma, levantei e concluímos a cena. Durante o sufoco, a música já tinha avançado bastante e não tivemos tempo de dançar o restante da coreografia, a parte mais bonita. Mas tudo bem, a parte mais bonita ali ficou por conta de mais uma vitória da parceria humana sobre o enrosco nosso de cada dia. Uma não enxerga, o outro não anda, mas unidos nos completamos e vamos longe! (De preferência sem mais enroscos...)

Ao fim do espetáculo, os “amigos” que estavam na plateia perguntavam se aquilo fazia parte ou não da cena e se lamentavam por não terem filmado a melhor cena, segundo eles, de toda a temporada! Mas a cena sem enrosco foi filmada, e, se você quiser conhecer, está bem aqui: https://www.youtube.com/watch?v=UeyeVr3xH2M

No próximo episódio, meus enroscos musicais: quando um erro musical torna-se um grande acerto, quando seu violonista tenta te derrubar no meio do show. Até semana que vem!

Comente e concorra a uma música inédita do “Invisível”, o novo CD da Sara!