terça-feira, 22 de março de 2016

Acredito



Em particular me pediram pra explicar a letra da minha música “Acredito”, canção que fecha meu CD “Invisível”, e decidi responder publicamente e compartilhar com todos vocês as angústias e alegrias que motivaram essa canção. Embora eu pense que a interpretação da arte deve ser livre, sei que esta letra pode deixar incômodos, reticências e interrogações no ar, e merece explicações. Antes de mais nada, pra acompanharem a letra e a música, seguem links:

veja a letra de Acredito: http://www.sarabentes.com.br/page/letras-do-cd-invisivel/
Ouça a música Acredito: http://open.spotify.com/album/06bS7Hff1KJYSApN6qoWKt

Bom, pra começar, não vim de outro planeta não (ao menos não que eu saiba :D ). Mas o “outro planeta” ao qual me refiro no início da música é o mesmo planeta que abriga “vocês” pra quem canto na segunda parte da letra, ou seja, o planeta onde vivemos todos nós, nosso planeta Terra. O paralelo que faço entre um suposto outro povo e o povo da terra onde pareço estar chegando e pra quem canto é sim uma crítica à nossa sociedade, com seus desvios, ganâncias, manipulações e enganos, é um chamamento a olharmos pra nós mesmos de longe, pra então enxergarmos nossas bizarrices. Só que mais que isso, a música é uma saudação à alegria, ao positivismo, aos pequenos e inesquecíveis prazeres, às coisas tão simples quanto maravilhosas, e o paralelo é um convite à aceitação de nosso lado sombra e de nossa luz, aceitação de nossas incoerências, aceitação da dualidade do ser humano. Somos nós que fazemos a sociedade, somos nós o povo desse outro “planeta meio estranho” do início da música. E sim, se olharmos em volta temos motivos o suficiente pra desistirmos de tudo. Mas o que estamos fazendo pra melhorar nosso entorno? O que estamos fazendo de bom pra contribuir? Reclamar e se deixar contaminar pelo que não vai bem não traz soluções. Quando digo no refrão da música “Em tudo o que for melhor ou tão bonito eu acredito” não significa que eu não acredite no contrário e que eu viva no mundo cor-de-rosa, muito pelo contrário. O “acredito” aí é o foco, é o que eu prefiro olhar e me lembrar na vida. Claro, mergulhar nas nossas próprias sombras é mais que necessário, pra nosso autoconhecimento, pra nossos processos evolutivos, pra não repetirmos nossos erros e pra sermos cada vez melhores. Afinal, se não for pra isso, pra quê mesmo estamos aqui? Ao mesmo tempo, sem valorizar os bons momentos e pequenas coisas, sem espalhar boas palavras e atitudes, sem nutrir o mundo e nutrir-se de poesia, delicadeza e arte, as sombras de si mesmo e do restante da humanidade ficariam pesadas demais, insuportáveis... Esta música é um “apesar de tudo, eu escolho acreditar no lado bom da vida, no lado bom da humanidade, no lado bom de tudo, no lado bom de mim”. E, como sugere o último trecho da letra, que o melhor de mim encontre o melhor de você, que se afinem e cresçam, atraindo pra gente tudo o que sintonizar com esta luz, com o magnetismo incrível das coisas boas.

A música começa a se alegrar quando canto “Mas eu sei que aqui vocês são diferentes, por isso eu sigo em frente...”, justamente porque minha esperança é o lado bom da humanidade, o lado bom que sim, existe em cada ser humano, acreditem; um bandido não é 24 horas um bandido, assim como um bem feitor não é um ser perfeito. Na maioria dos casos o que nos desvia de nosso lado luz é justamente a falta de foco, de atenção, a falta de despertar e de crer nesse lado luz. E no refrão da música reuni várias lembranças boas de coisas tão simples, quase ridículas, que me ajudam a viver, ajudam-me a focar na alegria e no lado luz de tudo. As “descidas em ondas, risos num tobogã” foram com meu amigo Bianco Marques há poucos anos, quando por acaso fomos parar num parque de diversões ao lado do local onde estávamos cantando, e foi um momento tão rápido quanto inesquecível, devido à cumplicidade, às endorfinas liberadas, à adrenalina, às emoções compartilhadas; “o degradê que o sol traz de manhã” é a imagem que tenho do único nascer do sol que vi na praia quando eu enxergava, no Farol de São Tomé, numa viagem que fiz com minha amiga Mariana Ribeiro, e é uma memória visual que guardo com todas as minhas forças; e assim por diante... Reunir essas lembranças foi como num jogo, em que te perguntam: Quais são as lembranças sensoriais mais felizes que você tem? Ok, então agora registre essas lembranças de algum jeito que você possa sempre acessar mesmo fora da sua mente. E então foi assim que nasceu “Acredito”, pra que eu, e quem quiser, nunca nos esqueçamos de como pode ser simples, e complexo, estar feliz.